HINÓGRAFOS BIZANTINOS — NASCIMENTO DE CRISTO
11. “Tenho um filho misericordioso e muito compassivo; conheço isso por experiência, observando como trata com deferência: ele que é fogo e habitou em meu corpo de espinhos e não consumiu sua humilde criatura (NT: Alusão a sarça ardente, figura da Virgem, pois, “a sarça ardia toda e não se consumia.”). Como um pai tem piedade de seus filhos, meu filho tem piedade daqueles que o temem : tal é a profecia de Davi. Reprimi vossas lagrimas , e tomai-me como vossa medianeira junto daquele que nasceu de mim; o autor da alegria é o Deus gerado antes dos séculos. Ficai tranqüilos sem vos consternar: vou para junto dele, eu, cheia de graça.”
12. Maria, tendo consolado, com estas palavras e muitas outras ainda, Eva e seu companheiro, aproximou-se da manjedoura, inclinou a cabeça e suplicou a seu filho nestes termos: “Meu filho, visto que me exaltaste por tua condescendência, minha raça indigente te implora hoje por meu intermédio: Adão veio a mim gemendo amargamente e Eva, aflita, acompanha-o nas lamentações. O responsável por seu estado é a serpente que os despojou da honra; por isso me imploram de cobri-los, clamando-me: ó cheia de graça”
13. Logo que a Imaculada apresentou tais pedidos ao Deus reclinado na manjedoura, este atendeu-a e subscreveu-os. Explicou-lhe o que está acontecendo ultimamente (NA: “Os últimos tempos” (lPd 5,l): entendem-se dos tempos da encarnação, que põe fim a época da antiga lei. Cristo explica o que estes tempos reservam ao homem e a si mesmo, ainda oculto para todos.), dizendo: “Mãe, é para ti e por ti que os salvo. Se não tivesse desejado salvá-los, não teria habitado em ti, não teria feito brilhar minha luz de ti, não terias sido chamada minha mia Por causa de tua raça, habito a manjedoura,amamento-me voluntariamente de teus seios; por amor deles me carregas em teus braços; eu, que os kerubims não vêem, tu me olhas e me carregas e, como filho, me acaricias, ó cheia de graça.”
14. “Tomei-te por mãe, eu, o autor da criação; e como um recém-nascido estou crescendo, eu, o perfeito, procedendo do perfeito. Estou envolvido em faixas por causa daqueles que outrora revestiram túnicas de pele; uma gruta faz minhas delícias, por causa daqueles que desprezaram as delícias do paraíso e gostaram da corrupção. Por terem transgredido meu mandamento de vida, desci sobre a terra, para que tenham a vida. Mas se quiseres saber também, ó Santa, a outra missão que devo cumprir por eles, compartilharás do abalo de todos os elementos, ó cheia de graça.”
15. Quando aquele que criou toda língua acabou de falar assim e de subscrever prontamente o pedido de sua mãe, Maria disse ainda: “se eu falar, não te irrites contra o barro que sou, ó Criador; vou te falar com liberdade, como a um filho; tenho em ti a confiança de uma mãe, porque me deste, pelo parto, todos os títulos de glória. Gostaria de saber já o que é que vais cumprir. Não me escondas o desígnio que tomaste desde toda a eternidade. Eu te gerei inteiramente; revela tua intenção a nosso respeito a fim de que eu saiba assim todo o alcance da graça que recebi, eu, a cheia de graça.”
16. “Estou vencido pela ternura que tenho pelo homem”, respondeu o Criador. “Não te contristarei, serva e mãe minha. Eu te revelarei o que quero fazer e cuidarei de tua alma, ó Maria. A criança que carregas em tuas mãos, daqui a pouco, a verás com as mãos pregadas, porque amo tua raça; a criança que amamentas, outros lhe darão de beber fel; a criança que abraças, deve ser coberta de escarros; o menino que chamas vida, terás que vê-lo pendurado na cruz, chorarás sua morte, mas o saudarás quando ressuscitar, ó cheia de graça.”
17. “Suportarei tudo isto de bom grado e de tudo isto a causa será a boa vontade que desde sempre mostrei pelos homens, boa vontade de um Deus que só procura salvar”. Ao ouvir isto, Maria exclamou com profundo gemido: “Ó meu cacho, que os ímpios não te pisem! Que eu não te veja imolado, ó meu filho quando tiveres crescido!” Mas ele lhe respondeu: “Pára de chorar, mãe, sem compreender: se isto não se cumprir, todos aqueles pelos quais me imploras, perecerão, ó cheia de graça.
18. “Considera minha morte como um sono, ó Mãe; no fim de três dias passados no túmulo por minha inteira vontade, tu me veras reviver e renovar a terra e todos os filhos da terra. Anuncia, Mãe, essas coisas a todos. Nestas coisas enriquece-te;por estas coisas, reina; com estas coisas, alegra-te.” Maria saiu logo e voltou para junto de Adão;levando a boa nova a Eva, disse: “Ainda um pouco de paciência; vós o ouvistes dizer a sorte que o espera em vosso benefício, a vós que me chamais: cheia de graça.”