Não temais os que matam o corpo (Mt X,28; Lc XII,4-5)

LOGIA JESUS — TEMEI AOS QUE MATAM A ALMA (Mt X,28; Lc XII,4-5)

EVANGELHO DE JESUS:
28 Não temais os que matam o corpo que não podem matar o ser, mas temei quem pode perder o corpo e o ser na Geena. (Chouraqui; Mt 10,28)

4 E eu vos digo, a vós, meus amigos: Não estremeçais diante daqueles que matam o corpo! Depois disso, eles não têm mais nada a fazer. 5 Mas eu vos previno diante de quem estremecer: estremecei diante de quem, após haver matado, tem o poder de lançar na Geena. Sim, eu vos digo, diante desse estremecei! (Chouraqui; Lc 12,4-5)

A questão do fogo no versículo, o que queima o corpo e o que purifica a alma, merece ser respondida, mas não neste versículo. Resta a questão de quem temer, e o sentido deste temer (não pode ser ficar com medo). Primeiro é digno de nota que “os que matam o corpo” aponta para uma multiplicidade, com efeito muitos podem matar o corpo… Por outro lado, aquele que mata o corpo e o ser ou alma indica exclusivamente um único: quem? Lembrar-se também que nesta época a psyche, alma, se referia àquilo que anima, que dá movimento, a vida (?), ou como nesta boa tradução, o “ser”. Ou seja, temer Aquele que tem poder não só sobre o corpo mas sobre o próprio ser, indica a lida com um “quem” e um temor a este, não como medo mas como receio, resguardo, vigília. Temer o “eu separado”, o “mim-mesmo”, o ad-versário em cada um, que não é capaz de matar mas de fazer perder-se corpo e ser, projetando-os na geena, em dor e sofrimento aqui e agora. Lamentavelmente, como sempre, só se encontra nos escritos canônicos e nos padres da Igreja, uma repetição do mesmo versículo sob diferentes formas textuais em um jogo das mesmas palavras sem aprofundamento.


Tomas de Aquino: CATENA AUREA

Romano Guardini: OS QUE MATAM O CORPO


Roberto Pla: Evangelho de ToméLogion 106

Aquele que pode levar à perdição alma e corpo na geena, é o Adversário de Deus. O corpo, será queimado no Forno da geena visível, e a alma, que para perdição sua não chegou a negar-se a si mesma durante sua vida no corpo, será jogada na geena, onde o fogo invisível e eterno, fará sua obra de consumação.

O corpo, enquanto agregado, sofre a desagregação. A alma (ψυχή — psyche), enquanto submetida às afecções, passa pela purificação do próprio fogo que vivifica e é intensificável com o desapego. Aqui cabe lembrar a justa noção de consumação, não como extinção mas como alcance de plenitude.

Os tormentos do fogo evangélico, ensinado por Jesus, são as dores de parto a que está submetida a criação inteira, e não o castigo de pecadores sem remédio.