Com efeito, é porque Heidegger e Eckhart têm concepções tão semelhantes do verdadeiro ser do homem que cada um deles pode falar da necessidade de o homem “retornar” à sua essência mais íntima. Assim, para Heidegger, o Dasein é o próprio ser do homem pelo qual ele está sempre e desde o início relacionado ao Ser. O Dasein não é algo que deve ser alcançado, mas algo em que o homem já se encontra. O homem já é Dasein, e sua tarefa é tornar-se o que ele é, ou seja, retomá-lo e torná-lo verdadeiramente seu. Da mesma forma, Meister Eckhart diz à alma para ficar em casa, ou seja, para fixar residência em sua própria câmara interior, que é a base da alma (Q, 170,10-1/Serm., 172; 393,32-5/Ev., 85). Eu não poderia sair de casa, diz Eckhart, se já não estivesse morando aí. Da mesma forma, a queda do homem para fora de seu próprio ser mais profundo, seu Da-sein, é o próprio testemunho daquilo do qual ele caiu, sua pertença interior ao Ser.
Assim, há em Eckhart e Heidegger uma distinção comparável entre o ente que realmente entrou em sua natureza essencial mais própria e o ente que se permite ocupar-se com uma coisa ou outra. O que Eckhart chama de “homem exterior” é o homem que gasta todas as suas energias em coisas externas. É um homem “ocupado”, ocupado com coisas criadas, cobrando impostos, negociando no mercado ou até mesmo jejuando “ocupadamente”, dando esmolas e visitando igrejas. Esse homem não está “em casa”, mas fora, entre as coisas. E quanto mais ocupado se torna, maior é a probabilidade de “esquecer” a base oculta e silenciosa da alma, onde “nada” está acontecendo. Pois o homem exterior vive uma vida de ação (Tun), empregando constantemente suas “faculdades” (intelecto, vontade, sentido). Mas o homem interior permanece em casa, na base da alma, que é mais profunda e anterior às faculdades. Aqui, portanto, não há ação (Tun), mas apenas ser (Wesen), que para o homem de ação não se parece com nada. Tal base é facilmente esquecida e encoberta.