PÉROLA EVANGÉLICA PREFÁCIO

A PÉROLA EVANGÉLICA — PREFÁCIO

Prefácio do Autor

Nosso Senhor Jesus Cristo, em toda sua vida, mas principalmente em sua tão sagrada Paixão, nos mostrou a todos o verdadeiro caminho e trilha da perfeição evangélica, trilha de perfeição da qual, quão enormemente todo o gênero humano está hoje em dia desviado, os piedosos e devotos não poderiam tanto o deplorar, mesmo que fosse com lágrimas de sangue e não sem causa, tendo em vista que daí eles coligem facilmente decorrer um desprezo horroroso e injúria inestimável a nosso Deus tão bom e soberano. E além disto um perigo certamente grande de tantas almas que negligenciam sua salvação, e que em grande parte conduzidas por seu amor próprio e privado, seguem as comodidades da carne, amam a vã vaidade do mundo, têm uma certa afecção sensual a respeito de algumas pessoas, vagueiam à toa, e passam a melhor ocasião e parte do tempo, ou na dissolução, ou em solicitudes, ou no estudo das riquezas, ou no apetite de desejo de vanglória e de honra. Outros que por um amargor de coração e distração para com as coisas exteriores que estão fora de nós, se ocupam e se impedem vãmente; alguns pela mortificação de suas paixões, alguns por seu próprio sentido e prudência, alguns por um estudo desordenado, como são aqueles que, de uma afeção totalmente jovem, e fria caridade, se dão mui curiosamente ao estudo das letras, até mesmo sagradas, e exercem seu entendimento em certas artes e coisas vãs, além do mais muito pouco cuidadosos de bem viver. Além de todos aqueles, digo eu, há outros que, envelopados de alguns defeitos, ou dados a vãs ocupações, de mil maneiras se enganam e iludem eles mesmos, se construindo como um muro muito espesso e paredes, entre a graça de Deus e eles, e são diversos anos sem nada beneficiar no espírito. Somente basta a eles seguir um certo costume de viver, e não têm sempre uma mesma trilha, segundo a opinião que conceberam deles mesmos, e principalmente segundo a sensualidade lhes dita. Porque não é maravilha que não venham jamais a saborear quão verdadeiramente Deus é doce e suave àqueles que o amam. Não é (digo eu) maravilha, se a Teologia mística, ou divina Sapiência (assim como ela é aqui proposta) lhes parece porventura uma loucura, contanto que não se encontre neles quase nenhum favor e desejo de agradar e servir a Deus?

Excertos:

  • PREFÁCIO II