ECKHART MAJOR SCOTT

Major Scott — Aspectos do Misticismo Cristão Extratos de Aspects of Christian mysticism

MASTER ECKHART

  • A crítica recorrente que atribui ao misticismo a negação absoluta do indivíduo como única via para o universal representa um equívoco interpretativo fundamental ou uma perversão deliberada, originada muitas vezes pelas contradições reais ou aparentes na linguagem dos escritores místicos, os quais enfrentam a dificuldade de expressar realidades eternas por meio de frases adequadas apenas ao domínio do espaço e do tempo, conforme as observações de Ritchie sobre a necessidade de que tais contradições se encontrem e sejam reconciliadas em uma esfera superior.
  • Eckhart enfrentou adversidades não pela obscuridade de seu pensamento, mas pelas aparentes contradições em sua exposição da verdade, decorrentes de seu desejo de ser inteligível ao público geral ao escrever em alemão, o que o levou a adotar um estilo epigramático e antitético com a omissão de frases qualificadoras, expondo-se a inúmeras acusações de heresia segundo a análise de Inge.
  • A trajetória de Eckhart como monge dominicano e vigário geral em diversas regiões revela uma existência de dedicação extenuante e consagrada, profundamente influenciada pelos escritos de Dionisios, Agostinho, Erigena e Aquino, além de ter sido ampliada pela convivência com aqueles que buscavam a luz interior, resultando em discursos em Colonia que operavam como uma música espiritual de difícil articulação e compreensão para os ouvintes da época.
  • A satisfação suprema da alma está intrinsecamente ligada ao conhecimento verdadeiro de Deus, fundamentado na premissa de que a divindade é tanto imanente quanto transcendente e, por conseguinte, passível de ser conhecida em todas as coisas, sendo o caminho mais excelente a apreensão de Deus em toda parte, visto que todas as coisas existem para esse propósito final e formam uma unidade em Deus, desde o anjo até a aranha, sem que a plenitude das criaturas consiga expressar a totalidade divina de forma mais completa do que uma gota d'água expressaria o oceano.
  • O conhecimento de Deus impõe à alma a necessidade de silenciar sobre sua natureza, pois a divindade permanece inominável e além de qualquer entendimento humano, tornando falsas as afirmações simplistas como a de que Deus é bom, visto que o ser humano pode ser bom, mas Deus está acima das categorias de bom, melhor ou ótimo, situando-se em uma dimensão que transcende qualquer capacidade intelectiva de compreensão.
  • O ensino místico pode conduzir a afirmações consideradas extravagantes, como a de que Deus só se torna Deus na criatura, o que ressalta que a criação inteira é uma expressão da vida e da personalidade divina, devendo o homem aprender que aquele que percebe Deus igualmente em todas as coisas está no caminho para atingir o propósito da alma, embora Saint-Martin questione a razão de se considerar o mundo atual de forma diferente de uma ilusão mágica se ele assim parecerá após a morte, dado que a natureza das coisas não se altera.
  • O desejo divino de conduzir o homem ao conhecimento de si mesmo, como o alfa e o omega do mistério espiritual, é mais intenso do que qualquer anseio humano, resultando em uma revelação completa e plena onde Deus se vê compelido a entregar-se inteiramente ao indivíduo que abandona as coisas terrenas para buscar a verdade fundamental.
  • A alma encontra a si mesma em Deus ao perder-se e abandonar todas as coisas, seguindo a doutrina de morrer para o eu para viver na divindade, pois em todo homem que renuncia ao próprio ser Deus se comunica com todo o seu poder, sendo o próprio homem o obstáculo para a aproximação do divino, o que torna o abandono incondicional e a humildade absoluta as vias mais curtas para a união com o Criador que, por essência, inclina-se a dar seus dons aos humildes.
  • O conhecimento de Deus deve ser invariavelmente confirmado pela experiência interior profunda, pois nenhuma revelação externa possui validade se não for verificada na parte mais íntima do ser, onde a voz interna se identifica com a voz divina e a luz interior, acendida por Deus, conduz a alma de volta à sua fonte original através de um caminho secreto de união absoluta.
  • A existência de uma potência na alma que é idêntica a Deus e não meramente unida a Ele permite a afirmação de que nada é mais próximo do indivíduo do que a própria divindade, sendo Deus mais íntimo ao homem do que este o é a si mesmo, de modo que a alma não encontra repouso fora de seu habitat natural, que é a própria divindade, especialmente em momentos de tempestade, escuridão e cansaço existencial.
  • A obra que Deus realiza na luz simples da alma supera em beleza e nobreza todas as outras obras realizadas nas criaturas, pois através dessa luz emana a graça que transcende a inteligência e a vontade, preparando o ser para o único dom que Deus concede de forma absoluta, que é Ele próprio, em um processo que exige que as faculdades humanas se transcendam para receber a essência divina.
  • A união mística ocorre no pequeno centelha ou espírito da alma, proporcionando uma certeza crescente da filiação divina e da regeneração pela graça, onde o ser percebe que o olho com o qual vê a Deus é o mesmo olho com o qual Deus o vê, uma verdade compreendida pelos iniciados de todas as eras que, conforme Saint-Martin, falam a mesma língua por pertencerem à mesma pátria espiritual.
  • O nascimento do Filho de Deus na alma ocorre quando o espírito se liberta do tempo e do espaço, transformando o homem em Deus da mesma maneira que o fogo converte em si mesmo tudo o que toca, o que exige que a vontade humana seja de tal forma conformada à vontade divina que ambas se tornem uma unidade perfeita, permitindo que o indivíduo aceite com paz tudo o que lhe é enviado.
  • A união com a natureza divina pela graça permite que a alma compreenda, queira e ame juntamente com Deus, o que constitui a essência da perfeição e impede que a criatura retorne ao nada de onde foi extraída, exigindo que a divindade atue sem impedimentos para que a semelhança divina seja levada à sua plenitude no interior do ser.
  • O pecado é interpretado como uma separação mortal que oculta a face de Deus e produz desordem tanto no universo quanto no indivíduo, assemelhando-se a uma enfermidade das faculdades e a uma cegueira dos sentidos que impede o discernimento do bem, resultando na morte de todas as graças e na ausência de frutos vitais na alma que se desconectou da fonte da vida.
  • A prática da oração deve contemplar tanto bênçãos temporais sob a ressalva da vontade divina quanto virtudes espirituais sem qualificações, pois estas são obras do próprio Deus no homem, manifestando-se na remoção de desejos carnais, no brilho contínuo da luz divina e na renovação diária na santidade.
  • O misticismo de Eckhart exige que o conhecimento obtido pela contemplação seja vertido em amor prático, estabelecendo que a verdadeira vida espiritual não requer o isolamento no deserto, mas a realização de pequenas tarefas com dedicação, de modo que ajudar um necessitado é superior a presenciar visões sublimes como as de Paulo, conforme o pensamento de Ewald de que o místico jamais se retira voluntariamente dos negócios da vida.