O Cristo sendo essencialmente o Princípio manifestado — e não somente uma manifestação do Princípio como é qualquer criatura conforme a seu simbolismo natural — a essência do Mistério crístico é de ordem puramente espiritual, sobrenatural e transcendente, e sua manifestação tem por conseqüência um caráter de universalidade e de “imanência” que engloba , ultrapassa e integra todos os graus da manifestação. Nenhuma dialética, histórica ou teológica, não pode esgotar o conteúdo. Reduzir o Cristo a um “amigo do humildes” ou dos “pobres”, ou a um revoltado contra a “ordem estabelecida” dos Fariseus é um absurdo e um contra-senso.
Pode-se “abordar” o Mistério por diferentes caminhos “exteriores”: histórico, teológico, metafísico; mas não se pode “realizar” sua essência a não ser por “via interior e pessoal”. Historicamente, a manifestação crística compreende o Antigo testamento que “prefigura” e “anuncia” o Novo, e este continua, se repete e se realiza na Igreja até a Parusia. A liturgia reproduz, realiza e conclui as etapas essenciais do Mistério crístico: a Anunciação, a Natividade, a Paixão, a Morte, a Ressurreição, a Ascensão, a efusão do Espírito Santo, na totalidade de sua manifestação histórica, o Corpo místico; e esta “realização” deve se operar em cada membro do Corpo místico, por uma participação litúrgica, sacramental e mística: Batismo, Confirmação, eucaristia, conhecimento das Escritura Santa, Rosário, Arte Sagrada, etc.
Teologicamente, o dogma central é “a União hipostática”: a união de duas naturezas divina e humana na Pessoa do Cristo (Jean Tourniac). dogma central, dizemos, posto que resume todo o mistério do Homem-Deus: ele é o “traço de união” entre o humano e o Divino, entre a manifestação universal e o Princípio. Em direção ao alto, ele nos conduz à Tearquia do Pai (Théarchie du Père); para “baixo” ele reúne e reconduz à Unidade todos os elementos do Corpo místico pela efusão do Espírito Santo, princípio transformador e unificador. O Corpo místico penetra nas profundezas do Mistério trinitário.
Dogma central, ao mesmo tempo transcendente e imanente, a União hipostática significa que a Pessoa divina do Verbo, tendo a mesma Essência ou Natureza Divina do Verbo — se une à natureza humana sem personalidade ou individualidade humana para constituir o Homem-Deus, o Cristo, o Verbo Incarnado. Esta natureza humana “despersonalizada” é portanto a totalidade da natureza humana — o segundo Adão — compreendendo em potência todas as “pessoas humanas” que virão se juntar ao Cristo, como os sarmentos à Vinha, como os membros à Cabeça. Esta “incorporação” ao Cristo se efetua a princípio, na ordem temporal ou histórica, de uma maneira sacramental ou litúrgica; a união “mística” — não mais hipostática — de um membro do Corpo místico e da Cabeça é a operação do Espírito Santo, análoga à Encarnação. Mas esta união não pode ser “efetiva” a não ser que a alma seja “virgem” o que implica não somente as virtudes “morais” ou por assim dizer “naturais”, mas ainda as “virtudes espirituais”, “sobrenaturais” ou teologais de fé, de esperança e de caridade. Portanto é ao nível da união “mística”, realização na alma da União hipostática, que situa a caritas ou agape, o que nada tem a ver com considerações filantrópicas ou aplicações “moralistas”. Esta caritas inclui, engloba e ultrapassa toda ordem humana, social e histórica, para a transpor, a transformar e a integrar ao nível da agape eterna do Pai, do Filho e do Espírito Santo.