Máximo o Confessor — Centúrias de Teologia I
Pensamento
81. Enquanto em toda pureza, pelo pensamento, não saímos de nossa essência e da essência do que é segundo Deus, não adquirimos ainda o estado de imutabilidade que dá a virtude. Mas quando, pelo amor, esta dignidade nos tiver sido concedida, então conheceremos o poder da promessa divina. É preciso crer, com efeito, que aqueles que são dignos, em se estabelecendo no imutável, estão aí onde a inteligência, após ser levada adiante, por amor, enraizou seu poder. Pois aquele que não saiu dele mesmo e de tudo o que pode ser pensado de uma maneira e de outra, e que não está fundado no silêncio que supera todo entendimento, não pode absolutamente estar liberado da mudança.
82. Todo pensamento significa de toda maneira uma multitude, ou pelo menos uma dualidade. É, com efeito, uma relação que está no meio entre extremos que reúne entre eles: o que pensa e o que é pensado. E nem um nem o outro guarda naturalmente, com certeza, a simplicidade Com efeito, o que pensa é um sujeito, que tem o poder de pensar certamente compreendido nele mesmo. O que é pensado é absolutamente sujeito, ou está em um sujeito: tem o poder de ser pensado compreendido nele mesmo, ou bem a essência do qual tem o poder era sujeito anteriormente. Pois nenhum dos seres não é totalmente por ele mesmo uma essência ou um pensamento simples, a ponto de ser também uma mônada indivisível. Quanto a Deus, se dizemos que é essência, não tem naturalmente o poder de ser pensado compreendido nele mesmo, pois não é composto. Se dizemos que é pensado, não tem naturalmente essência que seja um sujeito capaz de receber o pensamento. Mas Deus ele mesmo é por essência pensamento, e por inteiro pensamento, e somente pensamento. E segundo o pensamento, é ele mesmo essência, e por inteiro essência, e somente essência, e por inteiro acima da essência. Eis porque é mônada simples, sem divisão nem partilha. Logo, aquele que, de uma maneira ou de outra, tem nele algum pensamento, ainda não saiu da dualidade. Mas aquele que inteiramente de destacou de todo pensamento chegou, de certa maneira, na mônada: eminentemente depôs o poder de pensar.
83. Tem na múltipla alteridade, dissemelhança e diferença. Mas em Deus, que é propriamente um e único, só há identidade, simplicidade e semelhança. Logo não é prudente, antes de se ter saído do múltiplo, de se entregar às contemplações que levam para Deus. É o que mostra Moisés, quando planta fora do campo a tenda dos pensamentos e se entretém então com Deus. É perigoso dizer o inefável com as palavras de um discurso, pois um tal discurso é dualidade, e mais ainda. É mais forte contemplar o que é, sem nada dizer, com a alma só, pois se está na mônada invisível, e não no múltiplo. Com efeito, o Grande-Sacerdote, ao qual estava prescrito entrar apenas uma vez por anos no Santo dos Santos atrás do véu, não ensina senão uma coisa: aquele que atravessou o saguão e os lugares santos, e que entrou no Santo dos Santos, quer dizer aquele que superou a natureza do sensível e do inteligível, e que se purificou de tudo que é próprio do nascimento, deve, a inteligência nua e despojada, se abrir às aparições que revelam Deus.
84. O grande Moisés, quando plantou sua tenda fora do campo, quer dizer quando fundou seu julgamento e seu pensamento fora do visível, começou a adorar Deus e, tendo entrado nas trevas, no lugar do conhecimento desnudado de toda forma e de toda matéria, realizou aí as celebrações mais sagradas.
85. As trevas é o estado sem forma, sem matéria, sem corpo. Este estado leva nele o conhecimento exemplar dos seres. Aquele que o penetra, como um outro Moisés, compreende naturalmente o imortal em um corpo mortal. Depois de ter realizado nele mesmo em um tal estado a beleza das virtudes divinas, como uma escritura que perpetua a imagem bem imitada da beleza original, desceu a se oferecer ele mesmo àqueles que queiram imitar sua virtude. E mostrou nisso qual é a bondade e benfazer da graça que recebeu em partilha.