Maximo Caridade 1

Máximo o Confessor — CENTÚRIAS SOBRE A CARIDADE
Tradução em grande parte feita a partir da versão espanhola1 por Antonio Carneiro. A tradução de cada centúria foi organizada em 4 páginas de no máximo 25 itens cada uma, para facilitar a leitura na Internet.

*PRIMEIRA CENTÚRIA
*PRIMEIRA CENTÚRIA 26-50
*PRIMEIRA CENTÚRIA 51-75
*PRIMEIRA CENTÚRIA 76-100


Primeira Centúria (tradução de excertos variados)
Excertos traduzidos da versão inglesa da Philokalia
1. A caridade é uma boa disposição da alma, que a faz preferir a tudo o conhecimento (gnosis — episteme) de Deus. Chegar à posse habitual desse amor é algo de impossível se se conserva apego a qualquer objeto terrestre.

2. A caridade nasce da liberdade interior; a liberdade interior, da esperança em Deus; a esperança, da paciência e da longanimidade; estas, do vigilante domínio de si, do temor de Deus, e este nasce da em Cristo.

3. Quem crê no Senhor receia o castigo; quem receia o castigo domina as paixões; quem domina as paixões suporta pacientemente as aflições; quem suporta as aflições adquire a esperança em Deus. E a esperança em Deus desliga o espírito de todo apego terrestre. Então o espírito possuirá o amor de Deus.

4. Quem ama a Deus, prefere seu conhecimento (gnosis — episteme) a todas as coisas criadas, e se empenha nessa direção ininterruptamente, com ardente desejo.

5. Se todo ser não existe senão por Deus e para Deus, e se Deus está acima das criaturas, o homem que abandona a Deus para se apegar às criaturas mostra que as prefere a ele, o Ser incomparavelmente superior.

6. Quem conserva o espírito firmemente preso ao amor de Deus subestima o que é visível, até o próprio corpo — como se fosse coisa alheia.

7. Se a alma supera o corpo, se Deus é imensamente melhor que o mundo, quem prefere o corpo à alma, e o mundo a Deus, não difere dos idólatras.

8. Apartar o espírito do amor de Deus e da assídua atenção que isto exige, para fixar-se numa realidade sensível, é antepor o corpo ao espírito, é antepor a Deus Criador o que não existe senão por ele.

9. Se a vida do espírito é a iluminação do conhecimento (gnosis — episteme), e se esta iluminação é produzida pelo amor de Deus, está certo dizer: “acima do divino amor nada há”.

10. Quando, em transporte do amor, o espírito emigra para Deus, já não conserva a experiência de si mesmo ou de qualquer outra coisa. Inteiramente iluminado pela infinita luz de Deus, torna-se insensível a tudo que não tem existência senão per ele. Da mesma forma como não se vêem as estrelas quando se ergue o sol.

11. Todas as virtudes ajudam a alma ao amor ardente de Deus, porém mais do que as outras a oração pura, mediante a qual o espírito voa para Deus e se desliga completamente das criaturas.

12. Quando, pela caridade, o conhecimento (gnosis — episteme) de Deus arrebata o espírito e este, desligado das criaturas, percebe a infinitude divina, toma então consciência de sua baixeza, como Isaías, e estupefato rediz as palavras do profeta: “ai de mim, que estou perdido! pois sou homem de lábios impuros, habito num povo de lábios impuros, e no entanto vi com meus olhos o Senhor, o Rei dos exércitos!”

13. Quem ama a Deus não pode deixar de amar cada homem como a si próprio, mesmo se escandalizado com as paixões dos que ainda não se purificaram. E ao vê-los converter-se e reformar a vida, sente-se inundar a alma de uma alegria indizível.

22. Quem escapa às cobiças do mundo se torna inacessível à tristeza do mundo.

23. Quem ama a Deus, ama ao próximo sem reserva. Incapaz de guardar as próprias riquezas, distribui-as como Deus, dando a cada um o de que ele precisa.

24. Quem, ao dar a esmola, procura imitar a Deus, não coloca diferença alguma entre bom e mau, honesto ou desonesto, desde que se trate de necessitado. Dá a todos, a cada um segundo suas precisões, ainda se preferindo, per causa da boa vontade, o bom ao mau.

25. Deus, por natureza bom e sem paixão, ama todos os homens, obras de suas mãos, mas glorifica o justo porque este lhe está intimamente unido pela vontade; e em sua bondade, apieda-se do pecador, instruindo-o nesta vida para convertê-lo. Assim, o homem bom e sem paixão, ama igualmente todos os homens, os justos por sua boa natureza e boa vontade; e os pecadores, por causa de sua natureza e também em virtude dessa piedade compassiva que se tem para com um louco que mergulha na noite.

26. Dar largamente os próprios bens é sinal de caridade; quanto mais distribuir a palavra de Deus e prestar serviço aos outros!

27. Quem renunciou francamente aos bens do mundo e, sem pensar atrás, se torna servidor do próximo, ficará logo liberado de toda paixão e feito participante do amor e conhecimento (gnosis — episteme) de Deus.

28. Quem possui em si o amor de Deus não se fadiga de seguir o Senhor seu Deus, como disse o divino Jeremias, mas suporta generosamente as dificuldades, críticas, violências, sem querer a ninguém o menor mal.

29. Se um homem te ultrajou ou te desprezou, calcula bem tua cólera para não acontecer que por causa de um amargor venhas a separar-te da caridade e a estabelecer-te nas regiões do ódio.

30. Sofres uma ofensa ou desatenção? Sabe que há grande proveito no fato de tua vaidade ser assim providencialmente anulada pela humilhação.

31. A lembrança do fogo não esquenta o corpo. A sem amor não realiza na alma a iluminação do conhecimento (gnosis — episteme).

41. Quem ama a Deus não contrista o outro, nem se entristece com ninguém por motivos de ordem temporal. Não inspira e não sente senão uma tristeza (lype), esta salutar, a que S. Paulo sentia a respeito dos coríntios, e lhes procurou inculcar.

42. Quem ama a Deus leva sobre a terra uma vida angélica, no jejum, nas vigílias, no canto dos salmos e na oração, julgando bem a toda gente.

43. Quem aspira por uma coisa, luta para adquiri-la. Ora, mais que tudo de bom e desejável é Deus; que ardor não deveria ser o nosso para adquirir esse bem em si e desejável!

44. Não manches a carne por más ações, não sujes a alma por maus pensamentos, e a paz de Deus descerá sobre ti, trazendo-te a caridade.

47. Quem não obteve ainda a ciência de Deus, fruto da caridade, se orgulha com os bons atos, realizados segundo Deus. Mas quando for julgado digno dela, dirá com profunda convicção as palavras do patriarca Abraão, ao ser gratificado pela manifestação divina: “eu não sou mais que terra e cinza”.

48. Quem teme a Deus possui a humildade por constante companheira: graças aos pensamentos que ela inspira, chega ao amor e reconhecimento para com Deus. Ela lhe recorda como outrora viveu segundo o século (aion), recorda suas quedas, as tentações experimentadas na mocidade, como o Senhor o livrou de tudo isso e o fez passar, da existência sujeita às paixões, a uma vida segundo Deus. Então, juntamente com o temor, invade-o o amor, e ele não cessa de dar graças, com profunda humildade, ao Benfeitor e Guia de nossa vida.

  1. MAXIMO EL CONFESOR, Tratados Espirituales — ed. Ciudad Nueva.- Preparado por: P. Argárate — Primera Edición: 01/05/1997 ISBN: 978-84-89651-23-4 Páginas: 256 Formato: 20,5×13,5 Peso: 310 gr. PVP: 15,50 €

    Estos tres escritos espirituales, el “Diálogo ascético”, las “Centurias sobre la caridad” y la “Interpretación del Padre Nuestro”, desde su diversidad de formas confluyen en una misma temática: toda la realidad, penetrada por el misterio de Cristo, se orienta hacia nuestra divinización. Y ésta se alcanza mediante la caridad, de un modo especial por el amor misericordioso al que sufre y al que nos hiere. Entonces hacemos en nosotros la experiencia de la philanthropía.[]