Mateus

EVANGELHOS PERSONAGENS — MATEUS

André Chouraqui: MATYAH

Quem era Mateus? Os três primeiros evangelhos citam um apóstolo com esse nome: Matatyah, Matanyah (ou seu diminutivo Matyah), em aramaico Mati ou Matai, transformado em Mateus através do grego e do latim. A Igreja primitiva identificava Matyah com Levi, o publicano (Mt 10,3), mas alguns críticos põem em dúvida essa identificação e até a atribuição do evangelho ao apóstolo de quem tem o nome. No início do segundo século, Pápias, bispo de Hierápolis, na Frigia, sugeria que “Mateus reuniu as palavras em língua hebraica; cada um as interpretou como podia” (Eusébio, História Eclesiástica, III, 39,6). Este testemunho, ao qual não faltam ambiguidades, está na origem de uma reflexão cujas conclusões atuais tendem a afirmar um laço de parentesco entre Mateus e o primeiro evangelho; os exegetas divergem, contudo, sobre a natureza desse laço. Supõe-se que a partir dos textos hebraicos e aramaicos o último redator do livro em grego assumiu suas responsabilidades de autor encobrindo sua identidade por trás do nome de Matyah. Alguns vêem neste livro um trabalho de escola, a dos discípulos de Matyah.


Para começar, há uma possibilidade de que os Evangelhos não tenham sido escritos por testemunhas oculares. Chamamos estes livros de Mateus, Marcos, Lucas e João porque receberam o nome de dois discípulos diretos de Jesus — Mateus, o cobrador de impostos, e João, o discípulo amado — e de dois companheiros próximos de outros apóstolos — Marcos, o secretário de Pedro, e Lucas, o companheiro de viagem de Paulo. No entanto, os livros de fato foram escritos anonimamente — os autores jamais se identificaram — e circularam por décadas antes que alguém afirmasse que foram escritos por essas pessoas. A primeira atribuição confirmada desses livros a esses autores é de um século após terem sido produzidos. [BEJD]


Nas escrituras, os cobradores de impostos judeus que trabalham especificamente para os romanos são apresentados nas parábolas e em outros incidentes como humildes e bons, em contraste com as autoridades judaicas, os sumos sacerdotes e seus estudiosos, que são arrogantes e perversos. Essa é a coloração predominante de judeus e romanos nos evangelhos. Em Mateus 10.3, o cobrador de impostos é Mateus. Em Marcos 2.13-14 e Lucas 5.27-28, o mesmo coletor de impostos é chamado de Levi. O fato de Mateus e Levi serem a mesma pessoa (a visão tradicional) não é claro, e também não é clara a visão tradicional de que o cobrador de impostos Mateus é Mateus, o evangelista. Embora os nomes reais dos evangelistas possam ser atribuições posteriores, é muito claro que a figura de um coletor de impostos chamado Mateus, tradicionalmente identificado com o evangelista autoral de mesmo nome, é retratado não apenas como um homem bom, mas também como bom o suficiente para ser um evangelista. [WBNT]