Marcos o Mago

GNOSTICISMOESCOLAS GNÓSTICAS – MARCOS O MAGO


La única fuente de información acerca de Marcos es Ireneo. Hipólito y Epifanio no hacen más que añadir detalles de su propia cosecha. Marcos enseñó en el Asia Proconsular y parece que estuvo en contacto con medios siríacos. Su proximidad a la teología de los Extractos de Teódoto invita a adscribirlo a la escuela valentiniana oriental. Ireneo le achaca la práctica abusiva de artes mágicas. Los discípulos de Marcos recalaron en el valle del Ródano, donde los encontró el obispo de Lyón.

Hipólito habla de un cierto Colarbaso, relacionándolo con Marcos. Se trata, con toda seguridad, de un equívoco procedente de la noticia de Ireneo que dice: «Marcos se proclamaba a sí mismo la única matriz y recipiente del silencio de Colarbaso.» Colarbaso viene de una expresión hebrea que significa «tétrada» e Hipólito lo tomó por un nombre propio. El equívoco pasó a la tradición heresiológica posterior86. (excertos de J. Montserrat Torrents, “Los gnósticos”)


Irineu de Lião
Esse Marcos, portanto, que pretende ter sido ele somente, na qualidade de filho único, o selo e o receptáculo do Silêncio de Colarbasus,1) eis como ele colocou no mundo a ‘semente’ do mesmo modo depositada nele:2 a Tétrade mais elevada que tudo, assegura ele, proveniente dos lugares invisíveis e inomináveis, desceu sobre ele na forma de uma mulher; pois, diz ele, o mundo não pôde trazer o elemento masculino que ela possui. Ela lhe indicou quem era e expôs, somente a ele, a origem de todas as coisas, origem essa que ela não revelara até então a quem quer que fosse — nem aos deuses, nem aos homens. Ela concedeu-lhe o discurso que está aqui. Quando no princípio o Pai que não tem Pai, que é inconcebível e sem substância, nem macho e nem fêmea, desejou que fosse expresso o que nele era inexprimível e que recebesse uma forma no que nele era invisível, ele abriu a boca e proferiu uma Palavra semelhante a ele. Essa Palavra manifestou o que ele era, surgindo como a Forma do Invisível. A enunciação do Nome se fez da seguinte maneira: o Pai pronunciou a primeira parte de seu Nome, que foi o Princípio, uma sílaba compreendendo quatro elementos.3 Ele acrescentou a ela uma segunda sílaba, que compreende, ela também, quatro elementos. Pronunciou em seguida a terceira, que compreende dez elementos. Pronunciou enfim a última, que compreende doze elementos. A enunciação do nome inteiro comportou, portanto, trinta elementos e quatro sílabas. Cada um desses elementos tem suas próprias letras, seu próprio caráter, sua ressonância própria, suas características, suas imagens. Não há nenhum dentre eles que veja a forma da qual ele é apenas um elemento. E não somente eles ignoram isso, mas cada elemento ignora até a ressonância de seu vizinho, cada um ouvindo sua própria ressonância e se imaginando exprimir o Todo. Pois cada um deles, que não é mais do que uma parte do Todo, faz ressoar sua própria garganta como se fosse o Todo, e eles não cessam de ressoar de tal forma até que, todas sucessivamente proferidas, chegue-se à última do derradeiro elemento. E o arremate de todas as coisas terá lugar, diz a Tétrade, quando todos os elementos, juntando-se em uma única letra, ouvirem uma única e mesma ressonância — ressonância que concretiza uma imagem, assegura ela, quando nós, todos juntos, dizemos ‘Amém’. Tais são então os sons que formam o Éon sem substância e incriado; eles representam essas formas que o Senhor chamou de Anjos e que veem sem cessar a face do Pai.

Os nomes comuns e exprimíveis dos elementos, conforme a Tétrade, são: Éons, Logoi, Raízes, Sementes, Pleromas, Frutos; quanto às propriedades características de cada um deles, são incluídas e compreendidas no nome Igreja. A última letra do último desses elementos faz ouvir sua voz, cujo som, saído do Todo, origina os elementos próprios de acordo com a imagem dos elementos daquele Todo. É dos elementos dessa forma engendrados que provém nosso mundo e o que existiu antes dele. A própria letra, cujo som se propagava para baixo, foi mantida no alto por sua sílaba para que o Todo permaneça completo. Mas o som permanece na região de baixo, como se lançado para fora. O próprio elemento, de onde a letra desceu para as regiões inferiores com sua ressonância, compreende trinta letras, diz ainda a Tétrade. Cada uma dessas trinta letras contém nela mesma as outras letras que servem para a denominação. E as últimas letras, por sua vez, são nomeadas em meio às outras, e assim por diante, de tal modo que a série de letras se estende infinitamente. Compreenderás mais claramente o que quero dizer: o elemento delta tem em si cinco letras, isto é, o próprio delta, o epsilo, o lambda, o tau e o alfa. Essas letras, por sua vez, se escrevem em meio às outras, e essas últimas, em meio às outras ainda. Se, portanto, toda a substância do delta se estende desse modo ao infinito pelo fato de que as letras não cessam de se produzirem umas às outras e de se sucederem, muito maior será o oceano de letras do Elemento por excelência! E se uma única letra é a esse ponto imensa, vê que ‘abismo’ de letras supõe o Nome completo, pois, segundo o ensinamento do ‘Silêncio’ de Marcos, é de letras que é constituído o Pró-Pai. E por esse motivo que o Pai, conhecedor de sua própria incompreensibilidade, concedeu aos elementos — que Marcos denomina Éons — o dom de fazer ressoar, cada um, a ressonância que lhe é própria, na impossibilidade em que cada um se encontra de enunciar o Todo.


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  1. “Kolarbas significa, em hebreu, ‘tétrade, quaternário’” (Hans Leisegang). ‘Silêncio’: Marcos depende aqui de Valentino. Entre os valentinianos, o pleroma (a plenitude: o conjunto das entidades emanadas) é constituído de uma sucessão de éons (entidades) emanados em sizígias (aos pares) do pai (ou abismo) e de sua paredre (divindade conjunta) pensamento (ou silêncio). “A tétrade preexistente se compõe de Bythos (abismo), Sige (silêncio), Pater (pai), Aletheia (verdade)” e “a tétrade originada do Pater e de Aletheia se compõe de Anthropos (homem), Ekklesia (igreja), Logos (razão), Zoe (vida)”. (Epifânio, Panarion, XXI. 

  2. “A ascensão do homem pelo caminho da gnose se desenvolve igualmente por um ato de fecundação. A alma virginal recebe a semente divina da luz, engrandece e gera nela o homem novo, espiritual” (Hans Leisegang). 

  3. Em grego, stoikeion significa ao mesmo tempo ‘letra’ e ‘elemento’. Temos aqui uma cosmologia e cosmogonia de base linguística, como se encontra na Índia.