Malherbe (SD:33) – Silêncio em Eckhart

O silêncio não é a aniquilação do ser, é o seu fundamento.


tradução

Digo-o em boa verdade e em verdade eterna e em verdade duradoura: em todo homem que fundamentalmente “renunciou” a si mesmo (gelâsen), Deus deve expandir-se totalmente segundo o seu poder, tão completa e absolutamente que em toda a sua vida, nem em todo o seu ser, nem na sua natureza, nem em toda a sua Deidade, ele não reserva nada que não deva absolutamente expandir em fecundidade no homem que se “abandonou” a Deus e ocupou o lugar mais baixo. Digo-o em boa verdade e em verdade eterna e em verdade duradoura: […] este fundamento é um simples silêncio, imóvel em si mesmo, e por esta imobilidade todas as coisas são movidas, e são concebidas todas as vidas que os viventes dotados de intelecto são em si mesmos.

O silêncio não é a aniquilação do ser, é o seu fundamento. A quietude não é a aniquilação do movimento, é o seu fundamento. A renúncia ao ser exterior, à fala, ao movimento, abre o campo para a presença ativa de Deus, que confere sua verdadeira densidade ao ser interior, cuja única divindade fundamenta a fala verdadeira no silêncio e o movimento verdadeiro.

Original

Je le dis en bonne vérité et en éternelle vérité et en perdurable vérité : en tout homme qui s’est foncièrement « renoncé » (gelâsen), il faut que Dieu se répande totalement selon son pouvoir, si complètement et absolument que dans toute sa vie, ni dans tout son être, ni dans sa nature ni dans toute sa Déité, il ne réserve rien qu’il ne doive absolument répandre en fécondité dans l’homme qui s’est « abandonné » à Dieu et a occupé la place la plus basse. Je le dis en bonne vérité et en éternelle vérité et en perdurable vérité : […] ce fond est un silence simple, immobile en lui-même, et par cette immobilité toutes choses sont mues, et sont conçues toutes les vies que les vivants doués d’intellect sont en eux-mêmes [S 48 : AH 2, 112-114 ; PP 120-122].

Le silence n’est pas l’anéantissement de l’être, c’est son fondement. L’immobilité n’est pas l’anéantissement du mouvement, c’est son fondement. Le renoncement à l’être extérieur, à la parole, au mouvement, ouvre le champ à la présence active de Dieu, qui confère sa vraie densité à l’être intérieur dont la divinité seule fonde la vraie parole dans le silence et le vrai mouvement dans l’immobilité. Ces thèses paradoxales, si chères au mystique dominicain, ne se comprennent qu’à la lumière de la « percée » dont le présent chapitre espère élucider la signification.