Exercícios Espirituais — ESTRUTURA
ESTRUTURA DOS EXERCÍCIOS
A primeira página é uma oração, a famosa Anima Cristi, de origem franciscana, composta provavelmente no século XIV e que o Papa João XXII (1316-1334) quis enriquecer com 3.000 dias de indulgência. Inácio de Loyola julga-a tão conhecida de seus leitores que se contenta, no curso de seu trabalho, em dar o título. É preciso acrescentar que a inserção desta oração no cabeçalho dos Exercícios data somente de 1576. Em vida de Santo Inácio, o livrinho começava pelas Anotações.
Não é destituído de interesse tomar conhecimento desta bela invocação, em seu duplo texto espanhol e português:
Alma de Cristo, santificame.
Cuerpo de Cristo, sálvame.
Sangre de Cristo, embriágame.
Agua dei costado de Cristo, lávame.
Pasión de Cristo, confortame.
Oh mi buen Jesus, óyeme!
Dentro de tus llagas, escóndeme.
No permitas que me aparte de ti.
Del maligno enemigo dijiéndeme.
En la hora de mi muerte llámame.
Y mándame ir a Ti.
Para que con tus Santos te alabe
Por los siglos de los siglos.
Alma de Cristo, santificai-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Ó bom Jesus, ouvi-me.
Nas vossas chagas, escondei-me.
Não permitais que me separe de vós.
Do inimigo maligno defendei-me.
Na hora da minha morte chamai-me.
E mandai-me ir para vós.
Para que vos louve com vossos Santos
Por todos os séculos dos séculos.
As Anotações preliminares são vinte. Têm por finalidade ajudar o retirante a tomar “algum entendimento” de tudo o que vai seguir.
A primeira destas Anotações dá aos Exercícios uma definição clara:
“Assim como passear, andar e correr são exercícios corporais, também qualquer maneira de preparar e dispor sua alma para abandonar longe de si todas as afeições desordenadas e, uma vez abandonadas, buscar e encontrar a vontade divina na disposição de sua vida para a salvação da alma, chama-se exercícios espirituais.”
Em seguida vêm diretivas de pormenores e observações. O texto da terceira anotação é significativo: Santo Inácio distingue duas categorias de atos. Uns dependem do entendimento, do conhecimento discursivo. Os outros dependem da vontade. Ora, nos atos da vontade, quando falamos vocalmente ou mentalmente com Deus Nosso Senhor ou com os Santos, é necessário uma maior reverência de nossa parte do que no momento em que nos servimos de nosso entendimento. A distinção é curiosa. É preciso guardar este pormenor de que à palavra vontade Santo Inácio justapôs a palavra affectando. Assim, o ato voluntário é para ele, essencialmente, um ato de sensibilidade, de amor.
A quarta anotação contém informações cronológicas. Admite-se que o retiro seja de quatro semanas, mas cada semana não contará forçosamente sete dias. Assim, desde a primeira semana, certos penitentes levarão mais tempo para obter a contrição de seus pecados, outros irão mais depressa… Descobre-se aí um primeiro testemunho deste espírito de flexibilidade que anima Santo Inácio: suas prescrições nada têm de rígido. Ele quer que se adaptem aos casos particulares. Entretanto, acrescenta, o conjunto dos Exercícios durará mais ou menos 30 dias. Diferente dos grandes espirituais em que se inspira, Santo Inácio não redige um manual de devoção válido para o ano inteiro ou para toda a vida. É um “livro do mestre” destinado a ajudar um diretor e seu penitente durante um tempo fixo, o do retiro.
A última regra recomenda ao retirante abandonar tudo durante um mês, sua casa, seus amigos e conhecidos e retirar-se num cômodo onde possa viver afastado o mais possível. É na solidão que a alma mais facilmente acolhe os dons do Senhor.
Os Exercícios começam em seguida e seu título é acompanhado deste comentário: “Para vencer-se a si mesmo e ordenar sua vida sem se determinar por nenhuma afeição que seja desordenada.”
*SEMANA 1
*SEMANA 2
*SEMANA 3
*SEMANA 4