Biblioteca de Nag Hammadi — JRNH/” data-internallinksmanager029f6b8e52c=”769″ title=”Livro de Tomé [JRNH]”>Livro de Tomé, o Atleta (II,7). Tradução de R. Kuntzmann, in BCNH, n.° 16, 1986. (trad. em português de Álvaro Cunha)
Este livro, datado do fim do século III, é um dos testemunhos mais tardios da tradição atribuída a Tomé, pertencendo ao gênero literário dos diálogos de revelação (como Epístola Apócrifa de Tiago ou 1, no seio daquilo que lhes é visível. Então, o fogo visível deve-se ao amor da fé que eles tiveram antes que ele os fizesse sofrer. E eles se reunirão de novo ao manifestado. Em contrapartida, aqueles que olham o não-manifestado, sem o primeiro amor, perecerão pelas preocupações da vida e pelo ardor do fogo. Em pouco tempo, o manifestado será dissolvido. Então, haverá espectros sem forma: no meio dos túmulos, eles se manterão sobre os cadáveres, para sempre, pelo sofrimento e a aniquilação da alma” (p. 141,2-18).
…O Salvador disse: “Na verdade, não tenhas aqueles como homens, mas conta-os entre os animais. Com efeito, assim como os animais se entredevoram, também os homens dessa espécie. Eles se entredevoram, mas também são excluídos da (vida), pois amam a doçura do fogo, são escravos da morte e se precipitam para as obras da mácula. Eles levam ao fim o desejo de seus pais. Eles serão precipitados no abismo e serão fustigados por causa da amarga fatalidade de sua malvada natureza. Com efeito, eles serão flagelados até fazê-los fugir, acabrunhados, para o lugar que não conhecem. E eles perderão seus membros, não na resistência2, mas no desespero” (p. 141, 25-38).
…E Tomé respondeu: “Tu nos convenceste, sem dúvida, Senhor: nós reconhecemos em nosso coração e está manifesto que é a verdade e que tua palavra não (tem) ciúme. Mas as palavras que nos disseste são pretextos para zombarias para as pessoas e chacotas contra elas, pois não são compreendidas. Então, como poderemos andar proclamando-as, se eles (não) nos contam como gente do mundo?” Respondendo, disse o Salvador: “Em verdade, vos digo: aquele que ouvir vossa palavra e voltar a face, rir ou ficar amuado, em verdade vos digo, será entregue ao arconte do alto, que domina todas as forças como seu soberano. E ele o fará dar meia-volta e o precipitará do céu no fundo do abismo. E ele será encerrado em lugar estreito e tenebroso. Então, ele não poderá se voltar nem falar por causa da grande profundidade do Tártaro e do (…) extenso do Inferno, que está edificado sobre (…). Sereis perseguidos e entregues ao anjo Tartarucos (anjo de fogo, que os) persegue com relâmpagos de fogo, lançando centelhas no rosto daquele que é perseguido. Fugindo para o Oeste, é o fogo que ele encontra. Voltando-se para o Sul, ele também o encontra lá. Voltando-se para o Norte, lá também o espera a ameaça de um fogo que queima. Em contrapartida, ele não encontra o caminho para o Leste, a fim de fugir e ser salvo: ele não o encontrou no tempo em que estava em um corpo para que o encontre agora, no dia do juízo” (p. 142,19-143,7).
As maldições também se dirigem para o desejo e o apego ao corpo (salvo a décima segunda, corrompida e mais tardia, que deplora a recusa da gnose). Um trecho interessante é a parábola da cepa, elaborada a partir de Mt 13,24-30; 21,33-41 e de Hermas (Pastor, Similitude, V, 2,1-8; 5,1-5; 6,1-8).
Com efeito, se o sol não se erguer sobre seus corpos, eles apodrecerão e serão aniquilados como planta ou erva. Se o sol erguer-se sobre ela, dar-lhe-á força e a cepa sufocará. Quanto à cepa, tendo a força e a sombra das plantas e também todos os espinhos que cresceram com ela, estendendo-se e desenvolvendo-se, her(da) sozinha da terra onde cresceu e é senhora de cada lugar a que deu sombra. Então, tendo crescido, torna-se senhora de toda a terra, produz em abundância para seu senhor e o agrada particularmente, pois ele teria de suportar grandes esforços por causa das plantas até que as tivesse arrancado, mas a cepa sozinha as retirou e sufocou. E elas morreram e tornaram-se como a terra (p. 144,21-36).
O Códice II é encerrado (p. 145,20-23) com uma subscrição (colofão) piedosa do escriba:
Lembrai-vos de mim também, meus irmãos, em vossas orações. Paz aos santos e aos pneumáticos.