As origens do jogo de tarô e as relações de seus símbolos com a história do espírito humano (aliás, no decorrer do tempo, a sua representação variou muito) são obscuras. Parece fantasioso derivá-las da sabedoria egípcia ou caldeia; podemos admitir, ao contrário, que foram os boêmios que empregaram e difundiram as cartas. Entre as que foram conservadas, as mais antigas datam do fim do século XIV. Somente pelo fim do século XVIII é que foram estabelecidas as relações atualmente existentes entre os símbolos do jogo de tarô e a cabala (o arqueólogo Court de Gébelin, 1728-1784, foi o primeiro a supô-las) como também entre o alfabeto hebraico e a astrologia. Foi tentada várias vezes a aproximação da ciência cabalística e do tarô com a doutrina católica, sendo o esforço mais vasto nesse sentido o de Eliphas Levi (pseudônimo do padre Alphonse Louis Constant), cuja primeira obra, Dogme et Rituel de la Haute Magie, apareceu em 1854; o nosso autor a conhece bem e substitui seus desenvolvimentos, muitas vezes ingênuos, por uma exposição muito mais profunda. Houve oposições, como se pode ver pela publicação, em 1910, de The Pictorial Key to the Tarot, de Arthur Edward Waite, da “Hermetic Order of the Golden Dawn” — que, em parte, se propunham impedir o uso dos símbolos pelo cristianismo. Mencionemos ainda, entre as muitas tentativas de interpretação, a do teósofo russo P. D. Ouspensky — como nosso autor, imigrante e professor influente e citado por ele, com espírito crítico, em sua obra Un nouveau modele de l’univers — o qual, fiel à linha geral de sua concepção do mundo, comentava os símbolos do jogo de taro, de um lado, no quadro das religiões orientais e, do outro, no de uma psicologia das profundezas fortemente impregnada de elementos eróticos. (Hans Urs von Balthasar)