Kether ou Keter, a “coroa”, é a Vontade original do Criador, e quase não se distingue do Ein Sof, exceto por ser o primeiro efeito de Sua primeira causa. Mesmo sendo um efeito, a Keter, contudo, não faz parte da Criação, que a reflete mas não pode absorvê-la. Como ela não pode ser comparada a nenhuma outra imagem, deve ser chamada de ayin, um “nada”, um objeto de busca que é também o sujeito de toda procura. Como Nome de Deus, Keter é o Ehyeh da grande declaração de Deus a Moisés no Êxodo (3, 14). Deus diz Ehyeh asher Ehyeh, “Eu Sou O Que Sou”, mas os cabalistas se recusaram a interpretar esta afirmação como um mero “ser”. Para eles, Keter era, a um só tempo, Ehyeh e ayin, ser e nada, causa de todas as causas e absolutamente nenhuma causa, além da ação. Se a Cabala pode ser interpretada — como eu penso que pode — como uma teoria da influência, então Keter seria a própria ideia paradoxal de influência. Inicialmente, a ironia de toda influência está no fato de que a fonte é esvaziada até um estado de ausência, de forma que o receptor possa acomodar o influxo do ser manifesto. Esta pode ser a razão por que usamos a palavra “influência”, originalmente um termo astrológico referente ao efeito oculto que os astros exercem sobre os homens.