O que acaba de ser dito permite-nos ainda responder a uma dificuldade que um espírito moderno, abordando a doutrina peripatética do conhecimento, não pode deixar de colocar.
Em uma primeira aproximação, manifesta-se nesta doutrina a faculdade de conhecer como capacidade essencialmente receptiva ou passiva: o quadro virgem sobre o qual vem se inscrever o dado exterior. Mas não se poderia sustentar o contrário, isto é, não aparece a inteligência antes como uma faculdade ativa?
Tomás de Aquino, na realidade, não desconheceu este outro aspecto das coisas. Ativa, a inteligência encontra-se no princípio de todo conhecimento. Não é ela com efeito que deve tomar a iniciativa da abstração do fantasma, sem a qual nenhuma recepção de “species” seria possível? E a própria intelecção, não é ela um ato saído da vitalidade da faculdade e que pela produção do verbo manifesta sua fecundidade? Nossa inteligência não tem, por outro lado, a partir de seus primeiros dados, um trabalho imenso a desempenhar para atingir um conhecimento distinto de seu objeto? Enfim, seria conveniente lembrar que o espírito não somente reconstrói a realidade tal qual é, mas ainda que para si constrói todo um mundo de seres que só existem nele : o do ser de razão. Assim, por muitos títulos, aparece a inteligência humana como uma potência dotada de atividade.
Não se esquecerá, contudo, que o ato mesmo da faculdade, o “intelligere”, só é atividade em sentido superior, onde não entra propriamente nem progressão, nem movimento, mas perfeição na imobilidade. Para a inteligência, compreender é ser: “intelligere est esse”. Tudo o que existe de mudança na vida do pensamento encontra-se portanto ordenado a um repouso terminal ou, se se quer, a uma plenitude de atividade onde a vida atinge seu cume: a contemplação pura do objeto. (Gardeil)