PHILOKALIA-TERMOS — THEOSIS = DEIFICAÇÃO
PHILOKALIA
THEOSIS
George Capsanis, higumeno ou abade do mosteiro de Osiou Grigoriou no Monte Athos, resume assim o processo de theosis ou deificação:
*O homem feito à imagem (eikonon) de Deus, mas em sua caída “infectado” pelo pecado (hamartia), obscurece esta imagem (eikon).
*O homem interior (eso anthropos), criado segundo esta imagem é incapaz de se realizar a si mesmo se tornando à semelhança de Deus … tornando-se “como Deus”.
*Cristo, como inalterável, incorruptível ícone de Deus, restaura a imagem caída em Adão para revelar a beleza em nós, ao mesmo tempo que nos ensina e nos guia para o arquétipo divino.
*Transfigurado, Cristo restaura o brilho de uma criação obscurecida pela Queda.
*Assim quando nos tornamos “conformes à imagem de Cristo” (Romanos 8,29), recuperamos nossa natureza mais íntima.
HERMETISMO
1: DIVINIZAÇÃO
PERENIALISTAS
Mircea Eliade: HISTÓRIA DAS CRENÇAS E DAS IDÉIAS RELIGIOSAS
Já aludimos à deificação (théôsis)1 e aos grandes doutores, Gregório de Nissa e Máximo o Confessor, que sistematizaram essa doutrina da união com Deus (cf. § 257). Em sua Vida de Moisés, Gregório de Nissa fala da “treva luminosa”, onde Moisés “declara que vê a Deus” (II, 163-64). Para Máximo o Confessor, essa visão de Deus nas trevas efetua a théôsis; em outras palavras, o fiel participa em Deus. A deificação é, portanto, um dom gratuito, “um ato do Deus todo-poderoso que emana livremente da sua transcendência, ainda que permanecendo essencialmente incognoscível” (Jean Meyendorff, Saint Grégoire Palamas et la mystique orthodoxe, p. 45). Da mesma forma, Simeão o Novo Teólogo (942-1022), único místico da Igreja oriental a falar de suas próprias experiências, descreve nestes termos o mistério da divinização: “Concedeste-me, Senhor, que este templo corruptível — minha carne humana — se unisse a Tua santa carne, que meu sangue se misturasse ao Teu; e agora sou Teu membro transparente e translúcido.” (Tradução citada por Meyendorff, p. 57)
Como já dissemos, a théôsis constitui a doutrina central da teologia ortodoxa. Acrescente-se que ela está intimamente ligada às disciplinas espirituais dos hesicastas (de hêsukhía, “tranquilidade”, “paz de espírito”) , cenobitas que habitavam os mosteiros do monte Sinai. A prática preferida desses monges era a “prece do coração” ou a “prece de Jesus”. Este texto curto: “Senhor Jesus Cristo, filho de Deus, tenha piedade de mim” devia ser incansavelmente repetido, meditado e “interiorizado”. A partir do século VI, o hesicasmo propaga-se do monte Sinai para o mundo bizantino. João Clímaco (séculos VI-VII), o mais significativo teólogo sinaíta, já havia realçado a importância da hêsukhía (Cf. Kallistos Ware, introdução a John Climacus: The Ladder of Divine Ascent, PP. 48 s). Mas é com Nicéforo, o Solitário (século XIII), que essa corrente mística se implanta no monte Atos e em outros mosteiros. Lembra Nicéforo que a finalidade da vida espiritual é tomar consciência, através dos sacramentos, do “tesouro escondido no coração”; em outras palavras, juntar o espírito (o noús) ao coração, o “lugar de Deus”. Obtém-se essa junção fazendo “descer” o espírito até o coração, tendo por veículo o alento.
Frithjof Schuon: PÉROLAS DE UM PEREGRINO
Somente pela interioridade deificante, seja qual seja seu preço, é o homem perfeitamente conforme a sua natureza.
Aldous Huxley: A FILOSOFIA PERENE
Por não sabermos quem somos, por não termos consciência de que o Reino dos Céus está dentro de nós, é que nos comportamos de maneira tola, inúmeras vezes insana, algumas vezes criminosa, mas tão caracteristicamente humana. Somos salvos, libertados e iluminados, ao percebermos a bondade que está dentro de nós, retornando à nossa Base Eterna e permanecendo onde, sem o saber, sempre estivemos. Platão fala no mesmo sentido quando diz, na República, que “a virtude da sabedoria, mais que qualquer coisa, contém o divino elemento que sempre permanece”. E no Theaetetus volta ao ponto tantas vezes acentuado pelos que praticaram a religião espiritual de que só nos semelhando à imagem de Deus podemos conhecer Deus — e para nos tornarmos como Deus devemos identificar-nos com o divino elemento que de fato constitui nossa natureza essencial, mas devido, principalmente, à nossa ignorância voluntária, preferimos a inconsciência.
Eles estão no caminho da verdade quando apreendem Deus por meio do divino, a Luz pela luz. Fílon
Festugière ↩