PRONOIA = PROVIDÊNCIA, PROVISÃO
Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado (pronoia) da carne em suas concupiscências. (Rom 13:14)
Citações dos Padres — em nosso site francês
prónoia: premeditação, providência
1. A história mais recuada do conceito de providência pode ver-se na emergência, desde Diógenes a Aristóteles, de uma noção de finalidade (telos) inteligente que opera no universo. Em todos estes pensadores está nitidamente associado com o Deus inteligente cujas características começam a aparecer na fase final de Platão (ver Leis 899 onde a negação de pronoia é tida por blasfêmia) e em Aristóteles. Para os estoicos o Logos imanente governa tudo por meio do noas e da pronoia (D. L. VII, 138; SVF I, 176). Recebe de Crisipo um desvio no sentido do antropocentrismo (ver Porfírio, De abstinentia III, 20) onde o resto do kosmos está sujeito ao bem do homem. A pronoia estóica, identificada como era com a physis, era essencialmente imanente.
2. O platonismo tardio, como a tradição semítica recém-aparecida, era transcendente e acreditava numa série de divindades intermédias (ver dairnon), donde resultou a pronoia começar a ser distribuída por toda a série de divindades (Plutarco, De fato 572f-237b; Apuleio, De Platone I, 12). Quando o princípio supremo se torna mais remoto, o seu envolvimento direto com a pronoia torna-se notavelmente menor. Assim em Fílon, De fuga 101, o Logos exerce providência através das dynameis imanentes, tal como em Plotino (Eneadas IV, 8, 2) a Alma do Mundo tem uma providência geral e as almas individuais uma providência particular para os corpos que habitam; o Uno, evidentemente, está para além da providência (Eneadas VI, 8, 17). Implícita nesta distinção entre providência geral e particular, i. e., entre a ordem e a execução, está a reconciliação da transcendência necessária de Deus com a imanéncia necessária da atividade providencial; confrontar Proclo, Elem. theol., prop. 122.
Para os problemas decorrentes da existência do mal num sistema providencial, ver kakon; sobre a pronoia sem contato, sympatheia; sobre o conhecimento que Deus tem dos particulares, noeton 4. (FEPeters)
Ysabel de Andia:
O caminho do deserto interior é desconhecido, só podendo ser descoberto por uma “disposição da Providência” — es epitagmatos tes Pronoias — e confirmado por uma “inspiração” ou uma “moção” divina — ousper theothen kinoumenos -. (Mystiques d’Orient et d’Occident, Abbaye de Bellefontaine, 1994)
Ananda Coomaraswamy: PROVIDÊNCIA
DESTINO
A onisciência do princípio espiritual imanente, “intellectus vel spiritus”, é o correlativo lógico de sua onipresença atemporal. Só deste ponto de vista se torna inteligível o conceito de uma Providência (“prajna”, “pronoia”, “prometheia”). O Si mesmo Providencial (“prajnatman”) não decreta arbitrariamente nosso “Fatum” (Destino, Fado) senão que é o presenciador de sua operação: nosso Fatum é meramente a extensão temporal de seu ato de ser livre e instantâneo. Nossa confusão se deve somente porque nós consideramos a Providência como um conhecimento prévio do futuro; como se perguntássemos, “Que estava pensando Deus em um tempo antes de que o tempo fosse”!. Na realidade, o conhecimento Providencial não o é mais de um futuro que de um passado, senão somente de um agora. A experiência de duração é incompatível com a onisciência, da qual o si mesmo empírico é portanto incapaz.
Por outro lado, na medida que somos capazes de nos identificar com o Si mesmo Providencial ele mesmo — Gnothi seauton (Conhecer-se a si mesmo), Isto és tu — levantamos acima das consequências do Destino, tornando-se seu espectador ao invés de sua vítima. Assim a doutrina que todo conhecimento é por participação é inseparavelmente conectada com a possibilidade de Liberação (moksha, lysis), dos pares de opostos (Homem Exterior Interior), do qual passado e futuro, aqui e lá, são instâncias pertinentes no presente contexto. Como Nicolau de Cusa o expressou, o muro do Paraíso no qual Deus habita é feito destes contrários, e o caminho reto, guardado pelo espírito superior da Razão, jaz entre eles. Em outras palavras, nosso Caminho jaz através do agora e lugar algum do qual a experiência empírica é impossível, embora o fato da Memória nos garanta que o Caminho está aberto aos “Compreendedores da Verdade”.