Pentecostes

LITURGIA — PENTECOSTES

Segundo Thomas Merton, em seu notável “Tempo e Liturgia”, “em Pentecostes Cristo está presente em nosso meio como fundador de sua Igreja e doador do paracleto, que o manifesta na Igreja”. Para entender esta festividade que rememora seu sucedido mítico, enquanto símbolo a reviver e assim ganhar sentido através dos tempos, é preciso se referir ao relato evangélico. (v. Atos 2:1-13)


Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 2

A verdade é que neste relato há que admirar, além da importância do que nele se diz, o talento demonstrado pelo autor para expressar conjuntamente o sentido manifesto e o sentido oculto. A dupla significação que de maneira habitual podem tomar algumas palavras nos escritos testamentários, foi utilizada para expressar sob uma capa de mistério e de milagre, um ato tão capital do processo de realização espiritual como é a paulatina e gradual descida do conhecimento na consciência atenta, alerta, à percepção superior e devidamente preparada pela purificação psíquica ou batismo com água. Palavras tais como céu, vento, casa, fogo, línguas, resultam aqui excepcionalmente equívocas e devem ser tomadas só em seu sentido diretamente espiritual se se pretende extrair delas os ensinamento verdadeiro.

Por “céu” há que entender o “alto”, não enquanto a lugar, claro, senão como referência à mais pura e elevada consciência, a do Filho no homem. Vento, significa também, já se sabe, “espírito” e “sopro”, e é neste último sentido de hálito espiritual, ou de percepção de sabedoria como há que entender a inspiração ou aparição repentina de “um vento impetuoso que encha toda a casa”. Essa, a “casa”, como se dissera sob o teto, na tenda, na morada, é o interior da consciência, como na frase do centurião: “Senhor, não sou digno de que entres sob meu teto”.

A palavra fogo é, desde os tempos veterotestamentários, intercambiável em muitos casos por “sabedoria”, ou Espírito Santo, tal como se vê que ocorre especialmente enquanto ao segundo batismo, do que agora tratamos. Por último, a palavra “línguas” (gr. glossai no texto) quis ser entendida por muitos — e o escrito lucano subsequente dá chance a tal equívoco — como referência alternativa, segundo o caso, às “línguas de fogo” e às “línguas” ou idiomas nativos dos interlocutores dos apóstolos. As “línguas de fogo” devem ser interpretadas como intuições, descendentes, da sabedoria divina. Tal como as explica o texto, por certo, neste caso, não são “de fogo” mas “como de fogo”, posto que não se referem ainda direta e plenamente ao Filho do homem, senão a indicativos e precedentes de sua realidade completa. O que se diz de cada discípulo de Jesus, inspirado (pelo fogo, a sabedoria) começou desde então a falar “em sua própria língua”, que dizer, de acordo com a língua, raio ou porção de sabedoria a qual individualmente havia tido acesso e a qual, portanto, o Espírito que em cada homem “mora” e “está” o movia a expressar-se. Tal virtude coincide — e este é o segredo profundo do magistério espiritual — com a “língua” (de sabedoria) que o interlocutor pode entender e desenvolver interiormente em cada momento.

Por meio da figura evangélica da “Vinda do Espírito Santo” como Paracleto, graças à qual a chuva de fogo enche de conhecimento o homem que busca até que aceda, ao final, à consciência do “nascido do alto”, se descreve o “encontro” ao qual se refere o LOGION 2 de Judas Tomé, e que constitui a grande promessa, segundo recorda São Lucas (Lc 24,49).

François Chenique: SARÇA ARDENTE
Em Pentecostes, a Graça penetra os pensamentos e as ações do homem deificado; a alma recebe a plenitude da graça e a ciência de todas as coisas, o que lhe permitirá realizar o conteúdo dos dois mistérios seguintes (vide Mistérios Cristãos), à imitação dos dois mistérios precedentes (vide Ressurreição e Ascensão).