PARABOLE — PARÁBOLA
Excertos de “Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento”, de Coenen & Brown
No NT, parabole ocorre somente nos Evangelhos Sinóticos (48 vezes) e em Hebreus (duas vezes).
Em Hebreus, o ritual do tabernáculo é visto como uma parabole (RSV “simbólico”) do tempo da salvação (9:9), e a restauração de Isaque como figura da ressurreição (“de onde também, figuradamente (kai en parabole) recebeu-o de volta”, 11:19). Em Mt 15:15 par. Mc 7:17 significa uma “declaração”, e em Lc 4:23, um “provérbio”. Em todas as demais ocorrências no NT tem o significado de “parábola”, dentro dos vários sentidos desta palavra:
(a) Nos ditados figurados, a figura e a realidade se colocam lado a lado sem um adv. comparativo (“como”), a fim de que a figura (conhecida) elucide a realidade (desconhecida), e.g. “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5:14; cf. 25:14; Mc 2:17,19; e, no AT, Am 3:8; 6:12; Is 40:7; Jr 12:5; Pv 6:27-29). Nestes ditados figurados, acontecia frequentemente que a figura ficava separada da realidade à qual se referia (embora, de vez em quando, o contexto explicava esta última), e foi transmitida em forma isolada. No isolamento, desligava-se do seu contexto original e, assim, perdia-se de vista a sua lição original. Consequentemente, Mc 9:49 (“Porque cada um será salgado com fogo”), não fica mais inteligível com o acréscimo secundário no TR (“e cada sacrifício será salgado com fogo”, ARC). É possível que um escriba acrescentou estas palavras em etapa recuada, por ter detectado uma indicação do seu significado em Lv 2:13 (cf. Ez 43:24; Êx 30:5), e que outras variantes fossem variações desta frase (cf. Metzger, 102-3; C. E. B. Cranfield, The Gospel according to Saint Mark, 1959, 314 e segs.). (Sobre esta passagem — Fogo, pyr; Sal). De modo semelhante, Mt 7:6; 24:28 par. Lc 17:37 não indicam o ponto original de comparação. Em tais ocasiões, o dito se reveste do caráter de uma metáfora (ver abaixo).
(b) A metáfora é uma expressão figurada na qual um nome ou termo descritivo se aplica a algum objeto ao qual não é aplicável de modo literal e apropriado. Frequentemente implica em transferência do concreto para o abstrato: e.g. “Ele é a cabeça da família”, ou “a fonte da vida” (cf. mais em Mt 7:13-14; 9:37-38; 15:13; 1 Co 9:9; cf. Is 5:1-7, que retrata Israel como noiva e vinha, com Mt 21:3346; Mc 12:1-12; e Lc 20:9-19).
A metáfora coloca a figura, não lado a lado com a realidade conforme o dito figurado, mas no lugar da realidade. É necessário saber de antemão qual a realidade que subjaz a metáfora, senão, fica ininteligível. Logo, toda a linguagem metafórica depende das convenções.
(c) O símile é uma frase na qual a realidade e a figura são colocadas lado a lado com um adv. de comparação. Neste caso, há apenas um ponto principal de comparação: e.g. “Os cabelos dela (a realidade) são loiros como a palha (a figura)” (cf. mais em Mt 10:16; Lc 11:44; cf. Pv 11:22; 25:11-13; 26:1 e segs.; Is 16:2; Os 2:1-5; 6:9; SI 127:4).
Os símiles ocorrem raras vezes. A maior parte deles já deve ter sido transmitida por meio de linguagem figurada, para então receber um colorido metafórico na tradição. A figura num símile é tirada da realidade que é acessível a todos. C. H. Peisker
(d) A parábola é um gênero literário que, formalmente, consiste de uma história “típica”, tirada da realidade cotidiana do ouvinte e lhe oferecendo um exemplo de comportamento ao qual reagir (e.g., “o bom samaritano”, “o juiz iníquo”). Pode, também, consistir de uma comparação entre realidades “espirituais” e da natureza (e.g., “O reino dos céus é semelhante ao fermento”; “O reino dos céus é como um grão de mostarda”). Mas a parábola é mais do que mera forma. Tem uma força persuasiva muito grande. Vejamos, para tanto, a definição de T. W. Manson (O Ensino de Jesus, ASTE, págs. 95 e segs.): “A parábola é um quadro em palavras de algum trecho da experiência humana, concreto ou imaginado. Mas além disso, o quadro retrata ou um tipo ético para nossa admiração ou reprovação, ou algum princípio da maneira de Deus dirigir o mundo, ou ainda ambas as coisas. A parábola espelha a compreensão e a experiência religiosa do seu criador… Na sua operação real, pois, toda verdadeira parábola é um apelo a uma vida melhor e a uma confiança mais profunda em Deus, cujos pormenores não são senão o lado divino e o lado humano da verdadeira religião, o verso e o reverso da mesma medalha.”
Três elementos são essenciais na parábola: um ponto de contato com a realidade do ouvinte, a resposta (ou reação) do ouvinte, e um conjunto de temas teológicos inter-relacionados. A resposta do ouvinte é requerida pela conjunção dos temas teológicos no âmbito da história ou comparação que forma o ponto de contato entre as duas esferas da realidade representadas na narrativa (cf. K. E. Bailey, Poet and Peasant, 1976, págs. 3743). Júlio P. T. Zabatiero
gr. parabole = parábola
Desde Platão e Isócrates, deriva de paraballo (para, “lado a lado”; ballo, “jogar”, “trazer”, “colocar”), “colocar lado a lado com”, “manter ao lado”, “jogar para”, “comparar” (Platão, Gorgias, 475e; Isócrates, 9, 34). Significa: “manter ao lado de”, “comparação” (Platão, Philebus 33b; Isócrates, 12, 227); (b) “colocação ao lado”, “reunião”, “conjunção” (como termo técnico na astronomia); (c) “aventura”; (d) “parábola” de uma seção cônica (como termo técnico na matemática).
Na retórica, esta palavra, tendo por base o seu primeiro significado, ficou sendo o termo técnico para uma forma específica de fala, que se distingue das demais. A retórica clássica empregava as seguintes-figuras de linguagem: (a) a imagem (eikon); (b) a metáfora (metaphora); (c) a comparação (homoiosis); (d) a parábola (parabole); (e) a história ilustrativa (paradeigma);e (f) a alegoria (allegoria).
Conforme Aristóteles, o símile e a pura parábola servem como meios introdutórios de prova (Rhet. 2, 20). Mediante a comparação entre o conhecido e o desconhecido, na qual o próprio ouvinte deve descobrir a semelhança (geralmente não se nomeia o tertium comparationis, a fim de colocar em ação os processos mentais do ouvinte, de compreender, comparar e considerar), chega-se ao ponto essencial da analogia (cf. também Platão, Leg. 6, 758a; Phaed. 82e; 95e; 87b; Apol. 30e; e as diatribes estoicas-cínicas, e.g. Epict., Dissertationes 1, 24, 19-20; 2, 14, 21-22; 4,7, 22-23). As parábolas homéricas, do outro lado, frequentemente visam meramente ilustrar, ou têm função puramente poética (189 puras parábolas ocorrem na Iliada, 39 na Odisséia). O que caracteriza todas estas comparações e puras parábolas é o fato de a sua linguagem figurada ter sido tirada principalmente da vida, cujas realidades são acessíveis a todos. (DITNT)