A partir do momento, com efeito, em que se considera o saber científico como o único saber verdadeiro e o campo galileano do universo material que ele apreende como a única realidade, então nada do que não aparece em tal campo – a Vida absoluta que se experimenta fora do mundo, a Ipseidade desta vida que é seu “experimentar-se a si mesmo”, todo Si transcendental que tem sua essência desta [368] Ipseidade e finalmente todo “eu” que não é possível senão como um Si nada de isso existe. “A morte de Deus”, o Leitmotiv melodramático do pensamento moderno atribuído a algum avanço filosófico audacioso e retomado em coro pelo psitacismo contemporâneo, é a carta de intenção do espírito moderno e de seu positivismo mais chão. Mas, porque essa morte de Deus destrói a possibilidade interior do homem, na medida em que não é possível nenhum homem que não seja antes de tudo um Si vivente e um eu, ela fere o coração do próprio homem. Assim se verificam, no momento de sua inversão, as teses cruciais do cristianismo. E, assim como, segundo estas, era impossível atingir um vivente sem atingir a Vida, golpear um homem sem golpear nele a Cristo e, assim, a Deus, assim também é impossível negar o segundo sem proceder ao mesmo tempo à negação do primeiro, cuspir em Deus sem cuspir no homem. E aí está porque, ao eliminar-se o cristianismo sob o efeito conjugado das crenças galileanas e de seu ensinamento quase exclusivo em todas as partes onde este ensinamento se pratica, se segue inexoravelmente a debacle do humanismo em todas as suas formas. (Michel Henry MHSV)
morte de Deus
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