méthexis: participação

Methexis é o termo usado por Platão para descrever a relação entre os eide e os particulares sensíveis; ver Fédon 100d, e Parm. 130c-131a (onde a participação é criticada por implicar divisão). Aristóteles encontra apenas uma diferença verbal entre methexis e o outro termo platônico, «imitação» (mimesis), Metafísica 987b. Plotino prefere usar outras metáforas, mas a methexis torna-se de novo importante na sistematização de Proclo: prop. 65 dos Elem. theol. discute as implicações metafísicas da methexis, enquanto as props. 163-165 expõem a série de implicações que resultam da methexis.

Para o contexto mais geral, ver eidos; algumas das dificuldades decorrentes da methexis são afloradas em diairesis; para o seu uso em Proclo, ver trias. (FEPeters)


Tradução francesa da Philokalia
O poder que têm as energias não-criadas — ageneton — de criar e de modelar o seres.


Jean Daniélou, “PLATONISMO E TEOLOGIA MÍSTICA”

Assim nos aparecem pouco a pouco os bens divinos que constituem a imagem divina e que são participação à vida mesma de Deus, posto que, segundo a palavra muito forte de Gregório, a diferença entre Deus e o homem consiste não nas epitheoroumena, os traços exteriores, mas somente no hypokeimenon. Uma palavra exprime o conjunto de bens paradisíacos, que encontramos muitas vezes, aquele de “beatitude”, makariotes. A expressão, na língua teológica moderna, designa precisamente o estado da alma entrada em sua perfeição definitiva. Para Gregório, ela é “a soma e a perfeição de todos os bens”. Ela convém propriamente e verdadeiramente a Deus. É o sentido que ela tem em Paulo Apostolo: “Bem-aventurado e só poderoso é o Rei dos Reis e aquele que possui a imortalidade” (1Tim VI,15). Nós a encontramos na lista das perfeições divinas.

No homem a beatitude é uma participação naquela de Deus. Toda esta doutrina está longamente exposta na primeira “Homília sobre as Beatitudes”: “A beatitude é segundo penso o conjunto de todos os bens… Ela se opõe à miséria (athliotes)… O ser verdadeiramente bem-aventurado, é Deus… Nele a beatitude abarca a incorruptibilidade (akeratos = aphthartos), o bem inefável, a beleza inexpressável, a graça essencial (autokharis), o todo-poder, a alegria perpétua… Mas como aquele que formou o homem o fez à imagem de Deus, deve-se dizer bem-aventurado em segundo grau (deuteros) aquele que merce este nome por participação da beleza essencial (metousia tes ontos makariotetos)”. A sequência da passagem é interessante pela aplicação que faz à beatitude da teologia da imagem: “Assim como para a beleza corporal, a beleza está na pessoa viva que serve de modelo secundariamente no que é expresso pela imitação em sua imagem (eikon), da mesma forma a natureza humana, sendo a imagem da beatitude sobrenatural, apresenta ela também os traços da Beleza do Bem, quando ela dele reflete os caracteres bem-aventurados”.

Toda esta passagem é notável pela clareza com a qual formula a doutrina da participação. Estamos bem no centro do problema da imagem (eikon; eidos). O Padre Maréchal notou que toda a teologia mística de Gregório gravita ao redor desta ideia. Esta participação pode a princípio apresentar graus; assim toda vida espiritual pode ser apresentada como participação crescente na beatitude divina: “Bem-aventurados no sentido próprio e primeiro (kyrios kai protos) é ser transcendente. A beatitude no homem é uma participação (methexis) daquele que é realmente (tou ontos ontos) Assim ela é proporcionada à natureza do participante (metekontos). Quer dizer que a medida da beatitude humana é a semelhança com Deus (homoiosis)”. Em outra parte Gregório precisa quais são estes graus da betaitude; o primeiro, arche, é a “separação do mal. Pois, por degraus, a alma se eleva até o extremo limite onde pode alcançar sua esperança e se elevar ao conhecimento: é a segunda via. Além daí, é a beatitude celeste que ultrapassa tudo que o espírito humano pode conceber e que é retorno de nossa natureza no coração dos anjos”. Esta criação é de ordem intencional. Para Deus, que está fora do tempo, o objeto imediato da criação é o Cristo total, o eikon. Mas esta criação se desenrola no tempo seguinte a uma economia plena da sabedoria, onde a decadência ela mesma, como vimos, tem uma significação providencial. Aqui ainda encontramos a ideia platônica do primado do um sobre o múltiplo. Mas esta ideia é transferida à ordem histórica. Não se trata de uma unidade ideal e persistente a recuperar, mas de uma unidade a realizar através da história. Ora isto está nos antípodas do pensamento platônico, tal qual se exprime ainda em um Juliano na época de Gregório. Nas é mais estranho ao pensamento deste que a ideia de uma unidade da humanidade que é o termo do progresso histórico: “O futuro para ele só pode ser a manutenção ou a restauração deste que foi… O discípulo de Iamblichus associa a ideia nocional e a ideia conservadora” (Bidez, Vie de Julien).