Mani

ESCOLAS GNÓSTICASMANI (216-276)

BIOGRAFIA E BIBLIOGRAFIA
O maniqueísmo é a religião gnóstica mais influente, fundada por Mani (216-276), o profeta nascido numa comunidade batista mesopotâmica e ativo até ao seu martírio sob Bahram II. O maniqueísmo propaga-se no Ocidente até Roma, onde inicia as perseguições até ao século VI, e no Oriente até à China (694), tornando-se durante algum tempo religião de Estado no Império dos Turcos Uigures (763-840). Tal como os marcionitas, quando expulsos das cidades, os maniqueus refugiam-se no campo, sobretudo na Ásia Menor. Religião universalista fundada em revelações diretas e escritas, o maniqueísmo traduz os seus escritos para todas as línguas, adotando conceitos fundamentais das religiões locais como o zoroastrismo ou o budismo. Na realidade, ela não repousa minimamente num fundo religioso iraniano, como muitas vezes se pensou, mas elabora uma doutrina original a partir de sistemas gnósticos preexistentes. Caracteriza-se por um dualismo radical, a sua ideia particular do mundo como «mistura» de Trevas e Luz, o seu otimismo anticósmico e o seu severo ascetismo. A única inovação do maniqueísmo em relação aos sistemas gnósticos precedentes (que, aliás, não optam sempre contra o dualismo radical em favor do dualismo monárquico) é a atribuição do ato da criação do mundo a um demiurgo bom, chamado Espírito Vivo. O fato de o material de que o mundo é feito consistir nas carcaças dos príncipes das Trevas levou muitos estudiosos a concluir que o maniqueísmo é fortemente pessimista. O julgamento é, sem dúvida, falso dado que as carcaças estão misturadas com as porções de Luz engolidas pelas criaturas tenebrosas. Por muito sofredora que ela seja nesta opressão da matéria, a Luz transparece no entanto em cada talo de erva. A experiência imediata que um maniqueu tem do mundo não é minimamente traumática. Não lhe falta seguramente a reverência ante a criação que faz falta a certos gnósticos. Esta parte da natureza que é uma epifania da Luz constitui para ele um mistério, objeto de contínua surpresa. O maniqueísmo estabelece uma linhagem de profetas que termina no próprio Mani e atribui a Jesus uma função cósmica. (Excertos de Mircea Eliade e Ioan Couliano, “Dicionário das Religiões”)

Mani não foi somente o criador de uma teologia poderosa cujo dualismo consequente dava uma solução simples em aparência ao problema eterno da existência do mal, um profeta que teve bastante influência sobre as almas para as elevar até às alturas de uma renúncia quase sobrenatural. Sua religião, apesar do rigor lógico que lhe garantiu uma forte ação sobre os espíritos instruídos, não era um puro sistema de metafísica implicando certos princípio de moral; uma mitologia exuberante e fantástica aí tinha lugar de cosmologia. Esses contos extravagantes, onde a imaginação oriental podia se comprazer, contradiziam à ciência grega e chocavam o bom senso romano; também os apologistas cristãos os narravam com predileção. Foram sobretudo essas “fábulas intermináveis sobre o céu, as estrelas, o sol e a lua” que afastaram santo Agostinho da seita onde se tinha extraviado, depois de ter se esforçado em vão de os conciliar com as teorias da astronomia. (extraído e traduzido por Antonio Carneiro)

Escritos na Internet
*ESSAI SUR MANI ET SA DOCTRINE


EXCERTOS E ESTUDOS
*MIRCEA ELIADE
*JOHN O’GRADY
*O GRANDE MITO MANIQUEÍSTA