IGREJA — Modelo do Universo
Simbolismo
Richard Temple
O modelo da Criação conhecido como o Raio Divino foi central para a visão cosmológica do pensamento helenístico e do cristianismo primitivo. Através do ensinamento de Dionísio o Areopagita sabemos como os cristãos no século V compreendiam o relacionamento integral de tudo no universo de acordo com seu “lugar” na escala cósmica. Este conceito do universo foi também um modelo de trabalho que podia ser aplicado em qualquer escala, e que era especialmente útil quando aplicado ao homem ele mesmo. Dava a ele a possibilidade, sentindo este modelo dentro de si mesmo, de compreender sua própria “Queda” na escuridão, a encarnação de Cristo dentro de si mesmo e os passos necessários para sua Ascensão.
A ideia do “universo em miniatura” é uma chave mestra que abre muitas verdades místicas. Foi aplicada à arquitetura das igrejas bizantinas e russas medievais e também ao arranjo de afrescos decorando seu interior, embora não, até onde se sabe, aos ícones eles mesmos. Certo número de escritores comentaram sobre os elementos hierárquicos da arquitetura onde a descida de forças cósmicas, do nível divino ao humano, é disposta de acordo com o esquema tradicional.
Em um comentário dos afrescos na igreja só século XIV de Volotovo Polye, o historiador de arte M.V. Alpatov, sugere que o pintor buscava “tratar a lenda evangélica coo um encontro de celestial e do terrestre”. Mais adiante fala da totalidade de todo projeto: “Todo o espaço do domo, das paredes e dos pilares era coberto de afrescos em sete camadas. Cada figura era intimamente conectada com o todo. Seu arranjo era lógico e harmonioso”.
Este fragmento de informação é complementado por uma análise mais substancial de Philip Sherrard:
A Igreja ela mesma é uma imagem do universo — um ícone do universo de acordo com o padrão cristão. De acordo com este padrão, o universo é construído com base em uma escala hierárquica; ou melhor, pode se dizer que o universo há diferentes níveis de ser, cada nível resultando e dependendo daquele acima dele. Esta escala é frequentemente vista como tripla. O nível mais alto da escala é o mundo celestial e incriado do ser divino; o nível seguinte corresponde ao mundo do paraíso, ao mundo como foi criado “no princípio” — um mundo que foi perdido pela “Queda” do homem e reformado pela Encarnação e todo o ciclo de eventos que compõem a vida do Cristo, o o Novo Testamento. O terceiro nível é aquele da existência humana e terrestre — desta existência não em seu estado de queda mas no processo daquela “deificação” através da atividade do Espírito Santo pelo qual vem a realizar aquele estado da natureza humana “recriada” pelo Salvador.
Estes três níveis podem ser claramente distinguidos no esquema iconográfico (e arquitetural) da igreja. Primeiro, há o mundo divino apresentado no domo e nas mais altas abóbodas; segundo, nas perchinas, as partes superiores das paredes contêm cenas dedicadas à vida de Cristo, a esta “recriação” da outra natureza em Cristo, e a esta “reconquista” do Paraíso na Jerusalém celestial; terceiro, nas abóbodas menores e secundárias e nas paredes mais baixas estão imagens dos santos e mártires, homens e mulheres santos que já têm uma parte no mundo redimido. Desta maneira, entrando na igreja o adorador tem diante dele uma figura completa do universo, hierarquicamente graduado de acordo com o grau de ser possuído pelas várias figuras ocupando os diferentes níveis.