A defesa do homem verdadeiro, do homem transcendental, é a tarefa que desde sempre a filosofia reconheceu como sua. Na filosofia moderna, esta defesa tomou a forma de uma teoria transcendental do conhecimento. O que caracteriza tal teoria é que, diferentemente da ciência que se ocupa do conhecimento dos objetos de seu domínio específico, a teoria transcendental se interroga sobre a possibilidade do conhecimento em geral. Assim, Kant mostrava que a possibilidade de conhecer quaisquer fenômenos remete às formas a priori da intuição (o espaço, o tempo), bem como a categorias do entendimento, formas sem as quais não haveria nenhum fenômeno para nós, nenhuma ciência, por conseguinte. A filosofia transcendental nos reconduz assim do que aparece ao aparecer do que aparece. Este aparecer puro considerado em si mesmo, a filosofia moderna o denomina alternadamente “consciência”, “consciência transcendental”, “consciência de algo”, “intencionalidade”, [369] “estar no mundo”, etc. Através da diversidade destes sistemas de conceptualização, é a relação com um “Fora”, é a verdade do mundo o que se afirma como a única essência da fenomenalidade. Na verdade do mundo, no entanto, e nós o mostramos suficientemente, não se edifica nenhuma Ipseidade, não há nenhum Si, nenhum eu – nenhum homem tampouco, consequentemente. A incapacidade da filosofia moderna de preservar o ser verdadeiro do homem redobra a da ciência e a leva ao ápice. (Michel Henry MHSV)
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