Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias (philosophia) e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo; (Col 2:8)
CRISTOLOGIA
Citações dos Padres — em nosso site francês
Ananda Coomaraswamy: DA PERTINÊNCIA DA FILOSOFIA
Ninguém contesta que filosofia implica mais o amor pela sabedoria do que o amor ao saber, nem que depois, por uma transição natural do amor para a sabedoria, surgiu a filosofia, que passou a significar a doutrina dos que apreciam a sabedoria e são denominados filósofos.
Ora, o saber ou conhecimento como tal não é um mero informe dado pelos sentidos (o reflexo de qualquer coisa no espelho retinal pode ser perfeito num animal ou num idiota, mas não é saber nem conhecimento), nem o simples ato de reconhecer (sendo os nomes um simples meio de se aludir a informes já mencionados): é uma abstração desses informes, em que a abstração dos nomes das coisas é usada como um substituto conveniente para as coisas em si. Por isso o saber ou conhecimento não é de representações individuais, é de tipos de representações; em outras palavras, é a representação das coisas no seu aspecto inteligível, ou seja, da existência que as coisas têm na mente de quem fica sabendo ou conhecendo, tais como princípios, gêneros ou espécies. Na medida em que o conhecimento é dirigido para a consecução dos objetivos, é denominado prático; enquanto permanece na pessoa que vai ficar sabendo, chama-se teórico ou especulativo. Enfim, não podemos dizer que uma pessoa sabe algo sensatamente; só podemos dizer que sabe bem. A sabedoria não leva em conta o saber e governa o movimento da vontade no que se refere a coisas conhecidas; ou podemos dizer que sabedoria é o critério do valor, segundo o qual tomamos a decisão de agir ou não num caso particular ou em geral. Isso não se aplica meramente a atos externos, aplica-se também a atos contemplativos ou teóricos.
Dessa maneira, filosofia é uma sabedoria do conhecimento, uma correction du savoir-penser. Em geral é costume considerar que a filosofia metafísica, ser de fato anterior na ordem lógica de pensamento, que sai de dentro para fora. abrange o que mencionamos antes como saber especulativo, como por exemplo a lógica, a ética, a psicologia, a estética, a teologia e a ontologia; e nesse sentido os problemas de filosofia são obviamente os mesmos da racionalização, sendo portanto a finalidade da filosofia correlacionar os dados da experiência empírica de modo a “extrair algum sentido” deles, ou seja, de modo a compreendê-los, o que na maior parte das vezes é conseguido por uma redução do particular para o geral (dedução). E, definida dessa forma, a função da filosofia contrasta com a da ciência prática, cuja função apropriada é prever o particular a partir do geral (indução). Contudo, por trás disso é costume considerar que a filosofia I significa uma sabedoria que não se refere tanto a tipos particulares de pensamento, mas é uma sabedoria que se refere a pensar e analisar o que significa pensar, assim como uma indagação do que pode ser a natureza da referência final do pensamento. Neste sentido, os problemas da filosofia têm a ver com a natureza final da realidade, atualidade ou situação por que passamos, indicando por realidade tudo que é ação ou ato, e não simplesmente potencial. Por exemplo, podemos perguntar o que são a verdade, a bondade e a beleza (consideradas conceitos abstraídos das situações por que passamos e das coisas que sentimos) ou podemos perguntar se estes ou quaisquer outros conceitos abstraídos do que passamos ou sentimos têm de fato uma existência própria; isso constitui o assunto em debate entre nominalistas, de um lado, e realistas ou idealistas, de outro.1 Podemos observar que, como em todas estas aplicações filosofia significa sabedoria, se (ou quando) falamos em filosofias no plural não estamos querendo indicar tipos diferentes de sabedoria, e sim indicar sabedoria em relação a diversos tipos de coisas. A sabedoria pode ser maior ou menor, mas continua havendo uma e a mesma ordem de sabedoria.
- Este é o tema debatido entre os filósofos budistas e bramanistas. Para os nominalistas, as formas, ideias, imagens e motivos finais são meramente nomes dos painéis de pensamentos e só são válidos como meios de comunicação; para os realistas (idealistas) as formas finais são realidades que dependem da existência e são inerentes a ela, isto é, reais em sua existência e nominais apenas no sentido de serem “distinguíveis apenas logicamente”.[↩]