NATUREZA — EVOLUÇÃO
Ananda Coomaraswamy: O QUE É CIVILIZAÇÃO?
Concluindo, só posso reafirmar que na doutrina tradicional da evolução e da involução como doutrina de progresso na direção de uma meta atraente e inteligível não existe absolutamente nada incoerente em todos os fatos da evolução encontrados pelos biólogos e geólogos; na realidade, essa doutrina até inclui e explica esses fatos. O que esses fatos revelam para um metafísico não é a refutação da axiologia dele; revelam que a Natureza, que está eternamente produzindo, se movimenta de um modo ainda mais misterioso do que até então se supunha. Na verdade, houve época em que os próprios naturalistas costumavam achar que as pesquisas que faziam correspondiam a encontrar os “caminhos maravilhosos de Deus” e ninguém supõe que por esse motivo eles fossem menos capazes de observar fenômenos. Se algum dia um teólogo que não conhece absolutamente nada de biologia esquecer que “as coisas invisíveis de Deus são conhecidas pelas coisas que foram feitas”, se por exemplo conhece o “Esporte Divino”, mas nada sabe dos “esportes mendelianos”, indubitavelmente está perdendo alguma coisa. Mas se o cientista ignora completamente as doutrinas tradicionais ou, o que é pior, se está mal-informado a respeito delas e com isso chega a receá-las, é ainda mais infeliz porque, por maior que seja o conhecimento ou técnica que possui, enquanto os fatos forem considerados “sem significado” e o seu julgamento deixado em suspenso, quem os descobriu não está assumindo a responsabilidade pelo bom uso feito delas e sempre deixará que sejam exploradas à vontade pelos devoradores da humanidade; e, da segurança da sua torre de marfim, o cientista vai preferir, por sua vez, observar tais exploradores sem ousar criticá-los. Costumamos não levar em conta que, não mais que “arte” ou “ética”, a ciência é um fim em si própria; todas essas técnicas são meios de atingir uma vida melhor.
E será que podem ser usadas como tal, se negamos que a vida tem alguma finalidade? Humanamente falando, por mais válido que possa ser no laboratório, o ponto de vista “puramente objetivo” é muitíssimo menos prático do que a filosofia tradicional, que nem mesmo se supõe que um homem consiga entender de fato, a menos que viva de acordo com ela.
Titus Burckhardt: EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES