Eternidade

TEMPO — ETERNIDADE

VIDE: AGORA

Los escolásticos llamaban aevum o aeviternitas, términos que designaban modos de duración diferentes del tiempo y que condicionan los estados «angélicos», es decir, supraindividuales, que aparecen en efecto como «celestes» en relación al estado humano.


Filosofia
Glória Ribeiro: ENSAIOS DE FILOSOFIA
Por este termo, não estamos querendo compreender “o estar fora do tempo”, mas, antes, a dinâmica que constitui o próprio tempo, e que se caracteriza como um trasbordamento, como pura gratuidade. Pois bem, o que a eternidade deixa transbordar, a graça que dela superflui é tempo, finitude. O que está sempre na iminência de deixar de ser, para poder vir a (re)começar a ser. Ou seja, deixar de ser futuro para poder vir, para começar a ser presente, deixar de ser presente, para começar a ser passado. Tempo que impelido pela eternidade torna-se fugaz. Fugacidade que causa o esquecimento da própria eternidade que o impele, e que se mostra precisamente no instante onde co-incide o fim e o começo, o deixar de ser e o vir a ser de tudo o que é num agora — a que Eckhart chama o agora da eternidade.

Diremos então, este agora da eternidade é o fenômeno onde esta se concretiza como tempo, e que diz o ato onde tudo é criado: seja o homem, as coisas, as imagens, as palavras, os conceitos. Nesse agora da eternidade, Deus é experienciado na sua unidade, fazendo calar todas as diferenças, negando todas as negações, todos os limites que nos determinam como sendo isto ou aquilo. Ora, este agora acontece no silêncio, na quase indiferença que caracteriza o nosso modo de ser cotidiano, onde não tematizamos, não sabemos em que consiste o ser das coisas e de nós mesmos, mas apenas nos deixamos ser. Sendo assim, este momento em que Deus se faz presente no homem e nas coisas, transcende a todo dizer objetivo, a todas as categorias que representam os limites do entendimento humano, porque Deus, em sua unidade, é muito maior do que qualquer ideia ou juízo que d’Ele possamos fazer. Contudo, embora não possamos conhecê-l’O através do uso de categorias, todas as coisas d’Ele nos dão testemunho, posto que Deus é o princípio do qual participamos, e que nos mantém em nossa existência. Por isso, se se quer “conhecê-lo” não é preciso formular nenhuma teoria, basta atentar para isto que nós mesmos somos; basta escutar o silêncio que precede e perpassa todas as nossas ações quotidianas, pois é, na calada destas ações, que ressoa a Palavra de Deus.

Eudoro de Sousa: SEMPRE O MESMO ACERCA DO MESMO
Mas, resistamos, aqui, à tentação platônica, pois bem nos parece que pouco ganhamos, para esclarecimento deste, como de quaisquer outros mitos, identificando o «outrora» com a «eternidade». Que sabemos nós da eternidade, além de que nela indistintos e indiferenciados devem estar o «foi», o «é» e o «será», o passado, o presente e o futuro? E ainda este pouco que da eternidade nos é possível pensar e dizer, seria, uma vez aplicado aos mitos em questão, bem como a todos os que na verdade o sejam, muito mais obstrutivo do caminho a seguir por uma exegese que não queira partir das entrelinhas do relato mítico para chegar a um vácuo de entre-ideias, que não são as de ninguém, nem as nossas, nem as de quem quer que pela primeira vez o relatou. E há mais: uma eternidade, concebida por negação do tempo, constituir-se-ia aqui como a mais importuna das importunidades. Pois nada mais certo do que ver no «outrora» ou «naquele tempo» do mito, o tempo em que as «coisas» e as «palavras» acontecem, e o acontecer não se harmoniza de modo nenhum com o eterno-indiferenciado. Pelo contrário, o acontecimento fundamenta as diferenças ou, pelo menos, uma: a diferença do que foi e do que é. Dir-se-ia mesmo que tudo aconteceu «outrora», e que «agora», ou nada mais acontece, ou o que acontece é apenas repetição do que aconteceu. Como entender esta repetição? De qualquer maneira, excepto como comemoração, pois que esta palavra implica lembrar, recordar, trazer um «agora» distante até os beirais do mais chegado dos «agoras», ao passo que a celebração ritual de um mito (no caso, a repetição periódica da dança Maro), se distingue pelo querer repor o «agora» no «outrora», o tempo em que nada acontece no outro tempo em que tudo aconteceu. Não se trata, por conseguinte, de trazer o passado para o presente nem de levar o presente para o passado — este é o mister da história, não o da religião; porque a história onde procura as origens, sempre encontrará o originado, e a religião (bem sabemos que a etimologia não é certa) o que pretende é religare o que, no dia-a-dia, nos vai parecendo cada vez mais desligado, não o presente, do passado e do futuro, mas do originado, da origem ou das origens.