É, antes de tudo, necessário reconhecer a existência de princípios de operações distintos da essência da alma? Toda uma série de argumentos tendem a prová-lo (cf. I, q. 77, a. 1; Quest. disp. De Anima, a. 12).
1. Em uma mesma linha, ato e potência só podem pertencer ao mesmo gênero supremo de ser. Ora, as operações da alma não são evidentemente do gênero substância. Portanto, as potências que lhes correspondem não podem pertencer a este gênero; resta que sejam acidentes e, portanto, difiram realmente da essência da alma.
2. A alma considerada em sua essência está em ato. Se, pois, for imediatamente princípio de operação, será preciso dizer que age de maneira contínua: o que é contrário à experiência. Não é, portanto, princípio imediato de operação.
3. Sendo diversas, as atividades da alma não podem ser atribuídas a um mesmo princípio. Ora, a alma evidentemente é una. É, pois, necessário que haja, distinta dela, uma pluralidade de potências que explique a diversidade das atividades alegadas.
4. Certas potências são atos de órgãos corporais determinados e outras não; ora, é manifesto que a essência da alma, em sua unidade, não se pode encontrar, ao mesmo tempo, nesta dupla situação; para cada caso, pois, há potências distintas.
5. Há potências que agem sobre outras, a razão, por exemplo, sobre o apetite sensível, concupiscível ou irascível; o que não é evidentemente possível a não ser que se admita, além da essência da alma, uma pluralidade de potências.
Deve-se notar:
– Que a distinção, de que acabamos de tratar, entre a essência da alma e suas faculdades, só pode ser ideal.
– Que as faculdades devem ser compreendidas no gênero “qualidade” constituindo a segunda das quatro espécies.
– Que entre as potências, umas, que implicam um órgão corporal, existem no composto ou no vivente total, como em seu sujeito; enquanto outras, que agem sem órgãos, são diretamente inerentes à alma.
– Que as potências emanam ou procedem da essência da alma, a qual pode, de certa maneira, ser considerada como sua causa. (Gardeil)