SAGRADO – Espiritual — Espiritualidade
VIDE: pneumatikos, Espírito, pneuma
Arcângelo Buzzi
É surpreendendo o não-definível que o homem escapa ao naturalismo, à coisificação, à pura empiria e emerge como natureza espiritual. O termo espiritual não é rejeição do modo-de-ser-natureza, do modo empírico de existir, exprime apenas a abertura dessa natureza para um horizonte não definido, a possibilidade de ela evadir-se, indica um movimento de superação (Aufhebung) sem jamais rejeitar o assumido.
Quando se afirma a natureza espiritual do homem se pretende indicar que há nele a competência de perceber no que está-aí, no definido de uma situação, uma profundidade que se esquiva. «O principal é invisível» aos olhos, não ao espírito.
Por ser-espiritual, o homem se apercebe estando na existência não como algo que é, mas que deve vir. Ele se sente compelido a ultrapassar-se. Pode representar o dever-ser no sim ou não de um projeto, de uma obra, de um desejo. Ele institui então a re-presentação ou figuração do dever, mas não o dever ele mesmo. O humano está envolvido no dever de seu ser antes de qualquer querer ou não querer do sujeito. Sua ação, que se articula num querer ou num não querer particularizado, exprime o vigor de um movimento que o traz na inquietação do tempo e do espaço. É um animal «deslocado», irrequieto, sempre disposto a rasgar o «mundo» que se deu. e’ o navegante que, embora tendo uma pátria, busca. . . «Oh! peito humano sem pátria» (Camões). O poeta canta, na ação lusa, a sua própria impossibilidade: ir ao que é seu, à pátria de seu ser! No errar, no vaguear de sua ação, é que o homem se descobre navegando para uma pátria jamais alcançada, destinado a um fim jamais finalizado. É um Moisés que busca a Terra prometida sem jamais chegar!
(…) La espiritualidad concierne a la vida mas oculta y más profunda del alma; ahora bien, seculares y venerables costumbres nos llevan casi siempre a no disociar la vida personal de su marco social, a considerarla dependiente, como si de su mediadora se tratase, de una «realidad eclesial», hasta el punto de que desligarse de ésta parece implicar de manera irremisible la pérdida de la propia espiritualidad. A quienes no puedan alcanzar la disociación entre ambos conceptos, la espiritualidad de Ibn Arabi, sobre la que aquí se medita, no tendrá gran cosa que decir. A quienes buscan el encuentro del «único con el Único», a quienes, como él, pueden ser «discípulos del Khezr» y no aceptan que el conformismo prevalezca contra el imperativo personal, a ésos, Ibn Arabi y los suyos tienen sin duda mucho que decir. (HCIbnArabi)