ERGON — OBRA; ERGAZOMAI — OBRAR
NT ergazomai, “labutar”, “ser ativo”, “levar a efeito”, “obrar”, ocorre no NT 41 vezes (18 em Paulo), ergon, “obra”, 169 vezes (Paulo 68 vezes, inclusive as Epístolas Pastorais 20; João, 27; Apocalipse, 29; Tiago, 15; Mateus, 6; Marcos e Lucas, duas vezes cada; Hebreus, 9; Atos, 10; 1 e 2 Pedro, duas vezes cada; as Epístolas Joaninas, 5; e Judas, uma vez), ergasia, “negócio”, 6 vezes (4 em Atos e uma vez cada em Lucas e Efésios), e ergatés, “operário”, 16 vezes (Sinóticos, 10 vezes; 4 vezes em Atos; e uma vez cada em João e Paulo). Os significados básicos do grupo de palavras no NT correspondem àqueles que foram mencionados supra em CL 1. Ap 18:7 é digno de nota: “obrar o mar” significa “navegar”, ergon fica lado a lado com logos (palavra; e.g. em Lc 24:19; At 7:22; 2 Ts 2:17; 2 Co 10:11), bem como boule (“plano”, “intenção”; At 5:38). Como designação das ações do crente, ergon pode ser usado como sinônimo de karpos, fruto. As expressões ergon ou ergazesthai, “operar uma obra” (e.g. Mt 26:10 par. Mc 14:6; Jo 3:21; 6:28; 9:4; At 13:41; 1 Co 16:10), são comuns. Como sinônimos, há ergon e o plur. erga poiein, “fazer uma obra” (Mt 23:3, 5; Jo 5:36; 7:21; 8:31; 10:38; 14:10, 12; 15:24; 2 TM 4:5; 3 Jo 10; Ap 2:5; cf. Tg 1:25, poiêtès), e em um lugar erga prassein (At 26:20).
1. (a) Nos Evangelhos Sinóticos o uso teológico do grupo de palavras pode ser detectado, ergazesthai denota a atividade em um sentido bastante geral (cf. Lc 13:14; Mt 21:28, na vinha), a realização de alguma obra (e.g. Mt 26:10 par. Mc 14:6, a unção em Betânia). Há um matiz distinto no significado de ergasia em Lc 12:58, onde é melhor traduzida “esforçar-se”, ergates, cujo uso é relativamente comum, denota (de acordo com seu sentido natural) alguém que obra por um salário (Mt 20:1,2, 8), e depois, uma “testemunha” que está a serviço de Cristo e que é enviado ao mundo (Mt 9:37-38 par. Lc 10:2), mas também um “malfeitor”, ergates adikias, que não ficará firme no julgamento (Lc 13:27; cf. Mt 7:23). Ao passo que os fariseus são censurados por Jesus porque fazem suas obras “com o fim de serem vistos dos homens” (Mt 23:5), o ato da mulher que O ungiu é chamado ergon kalon, “uma bela ação”, Mt 26:10 par. Mc 14:6; e os discípulos são exortados assim: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:16; cf. 1 Pe 2:12). Os Sinóticos certamente ressaltam que o homem não tem reivindicações legais diante de Deus a qualquer remuneração específica pelos seus atos (cf. Lc 17:10; Mt 20:1-16); mas colocam bem claramente a pergunta desafiadora quanto aos frutos da fé. W. Joest chega ao ponto de dizer: “A parênese sinótica livra a obra do discípulo da securitas baseada na soberba do mérito, mas não do temor de ganhar ou perder a salvação” (Gesetz und Freiheit, 19613, 160).
ergon é relacionado com a obra de Cristo em Mt 11:2 e Lc 24:19, onde abrange Sua operação eficaz em ações e palavras.
(b) No Evangelho segundo João, o grupo de palavras é usado especificamente para ilustrar a atividade sem igual de Jesus, que está inextricavelmente vinculada com a operação de Deus Pai, como (e.g.) Jo 5:17 dá testemunho: “Meu Pai obra até agora, e eu obro também” (cf. Jo 4:34; 17:4). Jesus entende Sua atuação como o cumprimento da Sua missão divinamente estabelecida (cf. Jo 9:4; 5:36; 10:25), que procura despertar fé nAquele que foi enviado como o Revelador de Deus (cf. Jo 6:29). Os milagres de Jesus também servem a este fim (Milagres de Jesus, art. semeion, Jo 14:11- cf 10:25). Na obra revelatória de Jesus, que também é “a obra do Juiz” (R. Bultmann The Gospel of John, 1971, 246), os espíritos se dividem (cf. Jo 3:19-21; 15:24); o descrente já não tem qualquer desculpa pelo seu pecado (Jo 15:22 e segs.). O crente do outro lado, recebe a promessa de que fará obras ainda maiores do que as de Jesus (Jo 14:12). As obras feitas “em Deus” (en theo Jo 3:21) contrastam-se com erga ponera, “obras más” (Jo 3:19; 7:7; cf. 1 Jo 3:12), que são praticadas em comunhão com o diabo (Jo 8:41, 44; cf. 1 Jo 3:8). Em João, portanto, o conceito de operar obtém sua estrutura teológica da sua base cristológica, do seu ponto de partida na obra de Jesus como Revelador. (“Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento”, de Coenen & Brown)
Antonio Orbe: Parábolas Evangélicas em São Irineu
El anónimo autor del sermón (DE CENTESIMA, SEXAGÉSIMA, TRICESIMA) editado por R. Reitzenstein representa una ideología arcaica bastante compleja. Yo me contento con señalar su alusión a nuestra parábola (Trabalhadores da Vinha).
El día de obra dura, al parecer, lo que este mundo. Labrar la viña es «permanecer en los preceptos del Altísimo». El anónimo le confiere un aspecto de probación. Todo hombre es luchador («agonista»), tanto o más que labrador. Y por doble título: en cuerpo — con castidad y pureza carnal — , y en espíritu, con incorrupción de mente.
Sólo así, bien probado, redondea el operario su galardón («mercedem perficiamus»), sacando partido del cuerpo y del espíritu.
Pierre Gordon: A REVELAÇÃO PRIMITIVA
Até quanto se pode julgar por certos textos antigos, parece que o primeiro homem, na facilidade de conhecimento e de ação que lhe valia sua tecedura ao ser, esqueceu que seu pensamento tinha, como reverso, matéria terrestre. Com efeito, com a privação da Árvore de Vida (Gen 3,22), quer dizer a impossibilidade de apreender diretamente a matéria sob sua forma radiante, a ideia sobre a qual o Gênesis insiste mais, é que o homem foi formado do «pó» de nosso globo. Uma vez rebatido sobre este pó pela ocultação, o super-homem foi forçado a obrar este solo, onde ele recolhia anteriormente sem esforço aquilo que tinha necessidade. O que visa não somente a substituição do trabalho físico à vida contemplativa inicial, mas, de uma maneira indireta, o afundamento no conhecimento sensível, condição de exploração da terra. O pensamento, em mudando de nível, e em se privando desta alta ciência que, o integrando no ser, lhe permitia alimentar seu corpo sem esforço pelo fato mesmo que ele se alimentava ele mesmo de Deus, se tornou constrangido a passar pelo intermediário da terra ao mesmo tempo para se alimentar de ideias e para alimentar o corpo, — as duas coisas que outrora não faziam senão uma só de alguma forma, sendo doravante separadas. (v. ALIMENTO)
érgon: trabalho, feito, produto, função
1. Ergon, o termo vulgar grego para algo feito ou construído, é usado pelos filósofos com um duplo sentido: ou como a atividade de uma coisa ou como o produto dessa atividade. Aristóteles assinala com frequência a distinção (v. g., Ethica Nichomacos I, 1094a) e isso leva-o à questão ulterior e capital nas suas especulações éticas de que algumas atividades têm como sua finalidade (telos) um produto (não necessariamente um «objeto»; um exemplo frequente em Aristóteles é que a saúde é o ergon da medicina), enquanto outras têm como seu telos a própria atividade (ver Eth. Eud. 1219a). Esta é em geral a distinção que Aristóteles faz entre a atividade conhecida como poiesis e a atividade chamada praxis (q. v.; ver episteme, techne).
2. Esta distinção entre poiesis e praxis, produção e ação, é uma distinção eticamente orientada, mas tem implicações metafísicas que vão muito mais longe. Estas são estabelecidas na Metafísica 1050a onde Aristóteles aperfeiçoa o conceito de ergon transformando-o no de «estar em atividade» (en-ergeia). Este último estado é a finalidade (telos) do ser (neste ponto a energeia está relacionada com en-telecheia (entelechia), «estar em completude»), quer a atividade termine num ergon externo ou não. A única diferença é que na poiesis a energeia está na coisa feita, enquanto a praxis é a atividade daquele que faz. Por isso o movimento existe na coisa movida, mas a visão é uma energeia naquele que vê e a vida uma energeia na alma (comparar a definição de alma em psyche).
3. Esta identificação de telos/ergon/energeia (e, na continuação do mesmo passo, com eidos e ousia) leva a outro e importante significado de ergon como a função ou atividade própria de uma coisa. Preliminar aqui é o uso de ergon, atividade, em oposição às coisas que acontecem a um sujeito (pathemata; ver De anima I, 403a e pathos, paschein). Ambos, erga e pathemata, são importantes do ponto de vista metodológico visto que, juntamente com a dynamis, definem o campo de estudo do physikos ou filósofo natural (De anima I, 403b, De coelo in, 307b; confrontar-com aphairesis). Daí o uso transforma-se gradualmente em atividade própria ou função tanto num sentido físico (ver De gen. anhn. 731a) como num sentido ético (Ethica Nichomacos I, 1097b), e mesmo em expressões mais gerais como «a função própria da filosofia» (Physica li, 194b) e «a função da dialética» (Soph. El. 83a-b).
4. Ergon como função desempenha o seu papel na ética de Aristóteles, como tinha acontecido com Platão antes dele. Ambos estão interessados em estabelecer uma norma de comportamento e ambos lançam mão de padrões fenomenológicos, tentando ligar a excelência (arete) com a função (ergon). Platão define esta última como «aquilo que a coisa em questão faz sozinha ou melhor» (Republica 353a) e faz a excelência consistir no poder específico que permite que essa função opere bem. A posição de Aristóteles é um tanto ou quanto diferente. Para ele a arete é um certo e alto nível de realização em relação à função; alto nível que é garantido por não tomar como norma qualquer homem mas antes conferir a função à realização do «homem sério» (spoudaios; Ethica Nichomacos I, 1098a).
5. O que é então o ergon do homem? Para Platão são as atividades que só o homem pode executar: direção, governo, deliberação; e a arete peculiar ao homem que lhe permite realizá-las bem é a dike. Para Aristóteles o ergon do homem é uma «energeia da alma de acordo com o logos», e, uma vez que o bom de uma coisa é descrito em termos da sua função, o bom do homem é esta atividade ao nível da excelência (Ethica Nichomacos 1098a). (FEPeters)