criticismo

Um erro só se encontra verdadeiramente ultrapassado e superado no momento em que nele se descobriram as razões profundas e os secretos encaminhamentos. Tendências tão fortes como aquelas que conduziram, desde a antiguidade, tantos espíritos eminentes na direção do ceticismo, do criticismo ou do idealismo, não podem estar desprovidas de fundamento. O que se encontra, pois, na origem destas filosofias?

A certeza de nosso conhecimento se funda originariamente na percepção sensível. Ora, tanto devido à modalidade do seu objeto como às condições subjetivas demasiado complexas, esta percepção permanece envolvida em uma grande obscuridade e, portanto, sujeita a inúmeros erros. Donde essas hesitações e essas incertezas que, não tendo sido dominadas por uma visão mais compreensiva das coisas, conduziram numerosos espíritos ao ceticismo. Por uma reação bastante compreensível, um Platão ou um Descartes, para citar apenas os maiores, creram reencontrar a evidência destacando do mundo dos sentidos um mundo inteligível perfeitamente distinto. A clareza é aparentemente obtida, mas conhecimento sensível e conhecimento intelectual dissociados um do outro se opõem novamente como dois universos bastante difíceis de harmonizar. Se não nos prendermos então a um paralelismo bem pouco esclarecedor, ou se deslizará, seguindo a via do empirismo inglês, na direção de um sensualismo inveterado, ou, de preferência, voltando as costas ao sensível e ao mundo que representa, rumar-se-á na direção das ideias; daí a afirmar que só as ideias existem, não há senão um passo. Dissociação demasiado radical entre o conhecimento sensível e o conhecimento intelectual, tal é a razão primeira, e sem dúvida a mais ativa, da gênese das filosofias idealistas.

Venha juntar-se a esses primeiros discernimentos a hipótese de que, na elaboração do seu objeto, o espírito seria talvez uma potência ativa de determinação e, com Kant, comprometemo-nos com o caminho do idealismo construtor. E se nos dermos conta então — o que não é inexato — de que o pensamento perfeito é aquele que se toma a si mesmo como objeto, será suficiente apenas uma certa audácia para nos persuadir de que somos este pensamento perfeito, ou pelo menos de que somos participantes deste pensamento, trazendo assim tudo a esta perspectiva: a filosofia confunde-se com a ciência de Deus. Este último passo, no rastro de Fichte e Schelling, Hegel o deu.

Na origem de todo este processo, cujos momentos se organizam com uma certa lógica, se encontra, portanto, esta dissociação entre natureza e espírito, entre a sensação e a ideia, contra a qual Aristóteles houvera já tão vivamente tomado partido. O conhecimento humano, é preciso afirmar com este filósofo e em conformidade com a experiência, é, de maneira indissolúvel, sensível e intelectual: tema do realismo solidamente estabelecido fora do reconhecimento deste fato primitivo. (Gardeil)