Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento
O gr. pais tem 24 entradas no NT, onde se pode destacar a parábola do Exemplo de cuja frase do Centurião (“Não sou digno de que entreis em minha casa…”, vide Casa) é preservada na Liturgia; paidion tem 52 entradas, a maioria no evangelho de Mateus.

Em grego existem uma série de palavras para expressar estes distintos aspectos: teknon, tikto, engendrar, considera a criança como descendência de seus pais e antepassados. No que toca a idade se distingue entre paidion, criança de peito, criança pequena e pais, que é a criança entre sete e catorze anos. Além do mais, pais expressa a posição mais baixa na escala social e a antiga função de escravo, servo, própria da criança. Com nepios se insinua sobretudo o desamparo, a falta de experiência e o candor da criança; podendo chegar a significar «néscio». Também cabe mencionar hyios, filho, muito usado em sentido figurado, para expressar p.ex. a relação mestre-discípulo ou o pertencimento a um grupo (também teknon).

Nepios aparece sobretudo em Paulo, fora somente em Marcos e Lucas. O grego pais traduz dez palavras hebraicas na Septuaginta, com mais frequência ‘ebed = escravo, servo. Teknon aparece nos evangelhos indicando relação pais-filhos e em sentido figurado de descendência. Hyios é tratado em Filho.


Abade Stephane
O estado de “infância espiritual” é designado em sânscrito pela palavra “balya” que designa literalmente um estado comparável àquele de uma criança (bala): “É um estado de “não-expansão”, se assim se pode dizer, onde todos os poderes do ser estão por assim dizer concentrados em um ponto, realizando por sua unificação uma simplicidade indiferenciada, aparentemente semelhante à potencialidade embrionária (Semente de Mostarda). É assim, em um certo sentido um pouco diferente, mas que completa o precedente (pois há aí ao mesmo tempo reabsorção e plenitude), o retorno ao “estado primordial”. Este retorno é efetivamente uma etapa necessária no Caminho que conduz à União (a Deus), pois é somente a partir deste “estado primordial” que é possível atravessar os limites da individualidade humana para se elevar aos estados superiores.

Trata-se do “estado edênico” de Adão, antes da Queda. É um “estado de infância”, pois ainda não é senão potencial ou virtual, e deve ser “atualizado” pelo Segundo Adão, o Cristo. A este respeito, é comparável ao “estado virginal” da Theotokos, cujas virtualidades devem ser atualizadas pela descida do Logos ou do Espírito Santo.

Quanto aos “estados superiores”, estes são evidentemente “os estados angélicos” aos quais se acede a partir do “estado de infância espiritual” ou do “estado edênico” que então aparece como uma “etapa” no Caminho que conduz à “União mística”. Assim se precisam, na medida do possível, as passagens evangélicas que se referem ao “pequeninos”. A respeito das quais importa notar expressamente que não se tratam de crianças propriamente, mas de seus “anjos” no Céu, que veem sem cessar a Face do Pai. O estado de infância é portanto a etapa intermediária indispensável para alcançar em seguida ao “face a face. A este respeito, uma aproximação com !Cor XIII, 11-12 nos parece suscetível de confirmar o que precede, embora de outra maneira: “Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.”


Nicolas Boon
A palavra servidor (como na parábola Exemplo de ) é em grego “pais” em Mateus e Lucas. Ora “pais” quer dizer criança e servidor. Em João, lemos to paidou mou, minha pequena criança, meu pequenino (elakistos). O uso de João se explica quando nos aprofundamos no que é verdadeiramente a alma e no que há de mais central na alma, quer dizer o nous ou neshamah (ou “mens”); a alma vista sob este ângulo corresponde ao ponto original de nosso ser inteiro. É o que há de infinitamente pequeno que, em sendo idêntico ao que há de infinitamente grande, pode ser considerado como “pequenino”. De um ponto de vista exterior, o pais grego corresponde ainda à palavra hebraica naar que quer dizer ao mesmo tempo jovem homem e servidor. A ideia de jovem homem sugere àquela de juventude própria à criança. O texto grego deixa bem clara esta ideia guardada na palavra naar (vide Arcanjo Miguel).