Anjos das Nações

Castagno

Orígenes — Diccionario, la cultura, el pensamento, las obras; diretor: Adele Monaci Castagno; editorial Monte Carmelo, Burgo; 2003; 901 p.; ISBN 84-7239-793-9
Contribuição e tradução de Antono Carneiro das PP.71-73 — Anjo das Nações — 1. Antes e depois de Cristo — por Adele Monaci Castagno

Entre as questões angelológicas, a do anjo das nações é uma das mais complexas, porque se apresenta como um nó de problemas aparentemente distantes — a relação de Israel com as nações, a queda dos “éons”, a confrontação entre a lei de Deus e as leis dos povos, as causas da permanência das religiões e culturas diferentes do cristianismo — que Orígenes faz girar em tornos às mesmas passagens bíblicas (Dt 32,8: a divisão dos povos segundo os anjos de Deus e o relato do Gênesis sobre a torre de Babel, que se refere também à dispersão dos homens sobre a terra) trazendo à luz, nos diversos contextos, aspectos diferentes e às vezes difíceis de reunir em um quadro unitário. O ponto de partida (que Orígenes herdou das tradições bíblicas: Enoque 89;59; Jub 15, 31-32; Test.Neph.Hebr. 8,4; 9,1-5) é a ideia de que a cada nação Deus confia um anjo que é também seu “príncipe”. Neste sentido, era possível ver tais anjos nos “príncipes deste mundo” (1 Cor 2,6) ou nos príncipes de Pérsia e de Grécia de Dn 10,13 ss. E sobretudo no príncipe de Tiro (Jerônimo Filha da Cananeia) de Ez 28 ss. Em “Homilias sobre Ezequiel” 13,1 pode-se ler as razões em que Orígenes mostrou que nas passagens bíblicas citadas não se trata de “príncipe” terrenos, mas sim de anjos e em particular dos Anjos das Nações. Nos escritos origenianos esta coleção de passagens se contempla com ocasião de diversas questões. Limitar-me-ei aqui a assinalar os textos mais importantes. Em “De Principiis” 3,3, 1-5 faz reflexão sobre a diferença paulina: “sabedoria deste mundo”, “sabedoria dos príncipes deste mundo”, e “Sabedoria de Deus”. E ao determinar a quais poderes espirituais devem-se vincular-se cada um destes saberes, reformula uma teoria da relação entre cultura cristã e cultura grega, que se situa de modo original no inflamado debate de seu tempo. Enquanto que havia acordo em considerar de origem demoníaca os aspectos da cultura grega mais ligados aos mitos (quer dizer, todas as expressões da cultura literária), havia desacordo sobre a filosofia (cf. Clemente de Alexandria, Stromata I, 18,3 “versus” Emia, “Irriso”,1). Orígenes ainda conservando a perspectiva grega, projeta sobre um pano de fundo multiétnico o enfrentamento cristianismo-helenismo. A “sabedoria deste mundo” consiste naquelas disciplinas — poesia, gramática, retórica, geometria, música — que nos fazem compreender o mundo (cf. também em Carta a Gregório em Filocália 13); a “sabedoria dos príncipes deste mundo” refere-se ao que cada povo sabe sobre a divindade: a secreta e oculta filosofia dos egípcios; a astrologia dos caldeus; a sagacidade dos hindus, que prometem o conhecimento das realidades superiores; as opiniões dos gregos sobre as divindades; trata-se, portanto de saberes tão numerosos quanto os povos. Saberes ocultos que podiam adquirir-se sob a inspiração de poderes superiores: as Anjos das Nações (o pano de fundo implícito são os numerosos relatos do ciclo de Enoque sobre a difusão por parte dos anjos caídos, de saberes não destinados aos homens). A “Sabedoria de Deus” é a revelada pela Tradição judaica-cristã.

Ioan Couliano

PSYCHANODIA

Tradução de Antonio Carnerio

A ideia que a divindade preposta ao povo judeu é superior aos anjos prepostos a nações não é mais recente que o livro de Daniel (168-165 a.C.). As alusões a anjos dos povos são provavelmente mais antigas que essa. A Septuaginta (Dt. 32,8) interpreta o original hebreu tomando-lhe por: «de acordo com o número de anjos de Deus», aí onde a Bíblia de Texto Massorético; traz «de acordo com o número dos filhos de Israel» (também a Vulgata : “iuxta numerum filiorum Israel”). E a passagem continua assim (cito segundo a Vulgata): “pars autem Domini populus eius, Iacob funiculus hereditatis eius” (32,9). Se seguir então na Septuaginta, chega-se a esta asserção: Deus repartiu os territórios das nações segundo o número de seus anjos, de maneira que cada um dos anjos tivesse uma nação. Para o resto, as três versões da Bíblia concordam em dizer que somente o povo de Israel está diretamente sob a dependência de Deus. Em seguida, conclui E. Peterson que «das Verhältnis Israels zu den Nationen primar gar nicht als ein Verhältnis von Volk zu Volk, sondem als eines von Gott zu den Engeln der Völker aufgefasst ist». Ora, isto é precisamente o conceito que os judeus fazem de sua nação. A partir do início do sec. II a. J.C., os textos que têm em conta esta crença são bastante numerosos: Sirach 24,12, Livro dos Jubileus 15,31, etc… À época dos Macabeus, a tradição concernente aos anjos das nações tinha-se cristalizado, uma vez que o Livro de Daniel fala dos anjos dos Persas (10,13,20) e dos Gregos (10,20) e precisa que o anjo do povo judeu é Miguel (10,13,21), «um dos príncipes angélicos dos mais importantes». A ideia de não ser o próprio Deus que se ocupa do povo de Israel, mas o arcanjo Miguel, aparece também no livro etíope de Enoque (20,5). De qualquer modo, mesmo quando é Miguel que funciona como defensor e representante celeste de Israel, sua superioridade em relação aos outros anjos nacionais é muito marcada, o que se extrai como exemplo essa passagem das “Recognitiones” pseudo-clementinas: «Uni vero qui in archangelis erat maximus sorte dato est dispensatio eorum qui prae ceteris omnibus excelsi dei cultum atque scientiam receperunt».

«Ao maior dentre os arcanjos foi designado a tarefa de governar sobre aqueles que, antes de todos os outros, recebeu o culto e a ciência do deus que está nos céus

Esta tradição não é a única que deriva da interpretação de passagens veterotestamentárias. Ao lado dela, a hermenêutica rabínica se ocupa bem frequente de dois versículos do capítulo 24 de Isaías, concluindo que os anjos celestes das nações são culpados das ações político-militares das nações terrestres. Será necessário, sem dúvida, convir que esta interpretação, é muito mais antiga que o Talmude de Babilônia, onde está formulada de maneira cortante: «Tu não acharás nenhum povo que seja punido sem que sua divindade o seja ao mesmo tempo que ele». Já no século I d.C., era ideia bem disseminada que os anjos celestes das nações faziam a guerra entre eles do mesmo modo que as nações terrestres das quais eram os representantes e os governantes. A descrição das lutas entre os anjos está frequentemente associada à ideia da presença má de Satã ou de Samael nos céus, como na Ascensão de Isaias: «Ascendimus ego et ille (SC. angelus) super firmamentum, et vidi prelium magnum sathane (Vers, etíope e fr. lat.: Samael) et virtutem ejus resistentem honorantie dei et unus erat prestantior alio in videndo, quia sicut est in terra tanto est in firmamento, forme enim firmamenti hic sunt in terra».

«Nós subimos, eu e ele (o anjo) para o alto do firmamento, e vi o grande combate de Satã e da sua força que tinha se recusado de honrar Deus, e um era mais majestoso que o outro a ver. Pois o que existe sobre a terra se encontra no firmamento e as formas do firmamento estão sobre a terra.»

Archibald Joseph Macintyre

Excertos do livro “Os Anjos, uma Realidade Admirável”. Edições Louva-a-Deus, 1986. [MARA]

Segundo Dionísio, os Principados personificam a força e têm por ofício o governo dos reinos e dos povos. São como custódios das comunidades. A eles estão sujeitos todos os espíritos de inferior categoria e todos lhe obedecem no tocante a seu ministério.

São como que os generais do “exército” do Rei do Universo, que defendem e protegem as nações. Cada reino, cada nação, cada igreja, cada localidade e cada povo tem um vigilante guarda, um Principado que lhe serve de proteção, amparo e defesa. Ao aparecer aos pastorinhos em Fátima, em 1916, o Anjo se apresentou como “o Anjo de Portugal”. Seria um Principado, e que não se identificou como tal, pois, para as crianças a quem apareceu, essa designação certamente seria incompreensível.

Os Principados “lutam” contra as legiões infernais que, com seus príncipes, pervertem as sociedades e fazem-nas desviar do caminho da salvação. ,

São Paulo os cita nas Epístolas aos Romanos (8,38), aos Coríntios (I 15,24); aos Efésios (4,21), e aos Colossenses (1,16).

Segundo São Gregório, aos Principados (que ele chamava de Virtudes) cabe agir como os instrumentos de Deus na realização dos milagres.

Os Principados adoram a Deus presente na Sagrada Eucaristia e por isso um comentarista recomendava que “nenhum sacerdote deveria se esquecer de saudar o Anjo do santuário ao nele entrar”. O mesmo se aplica a nós, que, ao entrarmos numa igreja, depois da adoração ao Santíssimo Sacramento e a Santíssima Trindade e de uma oração a Maria Santíssima, devemos invocar o Principado daquela igreja.