EVANGELHO DE JOÃO — CAPÍTULO VIII
Segundo Carreira das Neves:
A narrativa sobre a “mulher adúltera” aparece como um “intermezzo” entre os capítulos sétimo e oitavo. Tanto pela forma como pelo conteúdo é uma narrativa “estranha”. Não se trata dum “ensinamento” à maneira dos conteúdos catequéticos normais do Jesus joanico (8, 2: “Jesus sentou-se e pôs-se a ensinar”). No entanto, tudo anda à volta da “Lei de Moisés”:”Moisés, na Lei, mandou-nos lapidar tais mulheres (cf. Lv 20, 10; Dt 22, 22), E tu que dizes?” (v. 5) O problema põe-se, então, entre Moisés e Jesus, a doutrina de um e de outro, o sistema religioso e seu significado. Os campos já estavam bem definidos desde Jo 1, 17: “A Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade aconteceram por Jesus Cristo”. A palavra “graça” tem a ver com “dom”, “amor”, “misericórdia”. E o que acontece com a mulher adúltera: segundo a Lei deve ser morta por lapidação, mas segundo Jesus deve ser salva para a vida da “graça” e da “verdade”.
Seja por causa da cena em si, na sua forma e conteúdo, seja por causa da tradição textual, a verdade é que esta narrativa não aparece nos manuscritos mais antigos: papiros de Bodmer 66 e 75, códices Vaticanus, Sinaiticus, Alexandrinus, Rescriptus e, bem assim, nos Padres gregos e latinos mais antigos. Outros códices latinos e gregos, de menor importância, colocam a cena depois de Lc 21,38. Aparece também no evangelho apócrifo dos Hebreus, embora de maneira um pouco diferente e na Didaskalia Apostolorum (VIII, II, 24), datado dos inícios do séc. III, na Síria. Também consta da Vetus Latina, da Vulgata e das Constituições Apostólicas (2, 24).