João de Karpathos — Centúrias
Para o encorajamento dos monges na Índia: Cem Textos
1. Tanto é o eterno o Rei do universo, cujo reino não tem começo nem fim, quanto acontece que seja recompensado o esforço daqueles que escolhem de penar por ele e pelas virtudes. Pois as honras da vida presente, tão grande quanto seja seu esplendor, se dissolvem totalmente com esta vida. Mas as honras que Deus libera àqueles que delas são dignas, estas honras que são dadas com a incorruptibilidade, permanecem para sempre.
2. O bem-aventurado Davi, quando compôs um hino a Deus cantado por toda criação mencionou a princípio os anjos e todos os poderes invisíveis, pois desceu até a terra. Ele não descartou assim nem as bestas, nem os animais dos campos, nem os pássaros, nem as serpentes. Ele considerava que o hino das últimas criaturas adorava igualmente o Criador. Pois ele queria que tudo isto que foi criado por ele aportasse a mesma oferenda. Como então o monge, que é comparado ao ouro do Ofir, poderia suportar ser jamais anestesiado ou preguiçoso quando lhe demandou cantar o hino?
3. Assim como o fogo cercava a sarça mas não a consumia, do mesmo modo naqueles que receberam o carismas da apatheia, quando apesar de tudo portavam um corpo muito pesado e muito quente, o calor do corpo não perturba ou assola em nada a carne ou a inteligência. Pois a voz do Senhor apagou a chama da natureza. A vontade e a palavra de Deus separaram o que a natureza tinha unido.
4. A lua enquanto cresce e decresce ilustra a condição do homem. Às vezes o homem faz o que é justo; às vezes ele peca (hamartia) e então por arrependimento (metanoia) retorna à vida santa. O intelecto (nous) daquele que peca não é destruído (como alguns pensam), assim como o tamanho físico da lua não diminui, mas apenas sua luz (phos). Através do arrependimento (metanoia) um homem reganha seu verdadeiro esplendor, assim como a lua depois de um período de decréscimo se veste a si mesma mais uma vez de seu pleno brilho. Se um homem crê em Cristo, “mesmo que morra, viverá” (Jo 11,25); deve saber que “Eu o Senhor falei, e farei isto” (Eze 17,24).
5. Se desistes e és derrotado quando um enxame de pensamentos maus (logismos) levanta-se contra ti em tua mente, deves saber que por um tempo fostes cortado da graça (kharis) de Deus, e por sua justa sentença abandonado a teu destino. Faças todo o esforço, então, para que nunca tua própria negligência seja privada da graça, mesmo por um simples momento. Logo lute, para que, por tua negligência, a graça não te abandona, nem seja por um momento. Mas se, dominando a queda, chegas a transpôr o muro dos pensamentos apaixonados e das contínuas sugestões impuras da malícia dos inimigos, não ignores a graça que te é dada do alto. O Apóstolo diz com efeito: “Não a mim, mas a graça de Deus que é comigo” construiu um tal troféu, me elevou fora dos pensamentos impuros levantados contra mim, e me libertou do homem injusto, quer dizer do diabo e do homem velho. É assim que aliviado, desprendido do corpo pela asa do Espírito, pude me ascender mais alto que os demônios que perseguem, capturam a inteligência humana nas delícias que suscitam e propõem pela pressão e a violência. Aquele que me fez sair da terra do Egito, deste mundo onde se perdem as almas, portanto derrotou Amalec em combatendo secretamente por mim, e me concedeu esperar que o Senhor exterminará diante de nossa face todos estas outras nações que são as paixões ímpias. É ele, nosso Deus, que nos dará sabedoria e poder, pois alguns receberam a sabedoria, mas não o poder do Espírito que permite vencer os inimigos. É ele que elevará tua cabeça acima de teus inimigos e te dará asas como à pomba para voares e te repousares junto de Deus. O Senhor porá em teus braços um arco de bronze, te concederá ser firme, hábil e forte contra o adversário, e entravará sob teus pés todos aqueles que são levantaram contra ti. Leve então em oferenda ao Senhor a graça da pureza, pois não te lançou às mãos das vontades de tua carne e de teu sangue e dos espíritos corruptores e impuros que os excitam, mas te confortou por sua própria retidão. Construa para ele um altar, como Moisés quando derrotou Amalec. Eu te confessarei e te louvarei, Senhor, cantarei teu nome, exaltarei teus poderes. Pois liberaste minha vida da corrupção e me restiraste das armadilhas e das redes do mal astuto que nos cerca de suas formas numerosas.
6. Os demônios maliciosos reacendem em nós as paixões impuras. Eles as renovam, as exaltam e as multiplicam. Mas as meditações da palavra de Deus, singularmente aqueles que nos fazem verter lágrimas, mortificam e dissolvem as paixões, sejam elas inveteradas. Pouco a pouco reduzem a nada os males da alma e as ações pecaminosas do corpo. Somente nós, pela oração e a esperança inflexível e intransigente, não negligenciaremos nos manter assiduamente junto de Deus.
7. Porque o Cristo pões o louvor na boca dos fieis que são como pequenas crianças quanto à malícia? Certamente porque ele reverterá, graças à salmodia, o inimigo e o justiceiro que tanto nos tormenta: o inimigo das virtudes e o justiceiro do mal, o diabo. Nós também, quando louvamos o Mestre na simplicidade do coração, quebramos então e nos desfazemos das armadilhas do inimigo. Pois por tua glória imensa, quebrastes os adversários e os inimigos que nos combatem.
8. Ser em si um aborto, quer dizer que se consome agora a metade das coisas da carne, mas que a outra metade, se consumirá no século a vir. Pois cada um colherá os frutos de sua própria vida.
9. O melhor jejum, aquele que deve preferir o monge, é de não se deixar enganar pelas paixões, e de continuamente cultivar uma grande hesychia.
10. Os demônios que odeiam nossas almas se insinuam em alguns, até nos levar a ter prazer em qualquer vã louvação. Posto que eles nos levam a nos desmanchar nesta louvação. Desde então, insuflados como somos de presunção, se nos damos passagem à vanglória, nossos inimigos não têm qualquer dificuldade em nos capturar.