Julian de Norwich Sensualidade

Matthew Fox — Contribuição de Julian às necessidades espirituais de hoje
A espiritualidade de nossa sensualidade.
Consistente com sua teologia da bondade da criação, Julian não produz corpo/alma como dualísticos ou antagônicos. De fato, ela faz exatamente o oposto: louva nossa sensualidade e seu relacionamento singular com Deus. O corpo e a alma formam uma “gloriosa união” — como as teologias cristãs sobre o casamento e a sexualidade seriam hoje interpretadas de maneira diferente se tivéssemos seguido os discernimentos de Julian a respeito, em vez dos de Agostinho, que escreveu: “A alma luta com o corpo”. Como Freud, Julian remonta nossa sexualidade a nossas origens: “Tornamo-nos sensuais no momento em que a alma é soprada em nosso corpo”. O corpo e a alma devem fazer as pazes, “que cada um deles receba ajuda do outro”, aconselha. Por intermédio de nossa sensualidade recebemos dons divinos, pois “Deus está em nossa sensualidade”, que “se baseia na natureza, na misericórdia e na graça”.

Porém, Julian vai ainda mais além. Começa a questionar a forma com que a palavra “alma” passou a ser empregada na teologia ocidental, como se fosse tuna substância separada de nossa corporalidade. “No que diz respeito a nossa sensualidade, pode com razão ser chamada de nossa alma, por causa da união que tem com Deus.” Impossível sermos mais encarnados do que em nossa espiritualidade! Além disso, o Criador é a própria “cola” que une toda a nossa individualidade. “Deus é o meio que mantém juntas a substância e a sensualidade, de modo a jamais se separarem.” Aqui, com certeza, está a santidade da perfeição, a busca da cura e da unicidade.