Julian de Norwich Pensamento

Julian de Norwich — BIOGRAFIA
Pensamento
A compreensão que Julian tinha da amizade de Deus por suas criaturas deve-se, pelo menos em parte, a suas revelações íntimas. Não é fácil avaliar o impacto que as revelações exerceram em seu desenvolvimento espiritual, mas encontram-se sinais de sua experiência mística em toda a sua mensagem. Em algumas partes do texto, ela explicou como as revelações confirmaram sua instrução religiosa anterior. Expressou profundo respeito por todos que lessem sua “lição de amor”, respeito esse baseado na compreensão de Deus e no mistério da criação e redenção. Esse senso de honra era resultado natural da noção medieval de criação contínua, que considerava o ato inicial de criação apenas uma fase do processo criativo. Enfatizava o modo como o Criador continua envolvido na formação e no desenvolvimento de suas criaturas, depois de tê-las criado. Isso significa considerar a emenda das criaturas continuação do primeiro ato de criação. Graças à sua educação dentro dessa tradição teológica, Julian via a redenção como o amor redentor de Deus fluindo com naturalidade do amor criador dele, e a evidência textual indica que ela percebia suas visões místicas dentro desse sistema de coordenadas anterior.

Esse foco na imensidão no amor fiel e duradouro de Deus de forma alguma diminui as revoluções espirituais e dificuldades sociais desta vida. Ao contrário, a tragédia do pecado social e do pecado pessoal mais se evidencia dentro da estrutura da espiritualidade centralizada na criação adotada por Julian. A ideia da compaixão divina pelos pecadores chama a atenção para a enorme diferença entre o amor humano e o divino e acentua a artificialidade da malograda resposta humana ao convite para amar a Deus com todas as forças.

Apesar de suas firmes convicções, a antropologia e a teologia de Julian mantêm um tom afirmativo. Esse impulso positivo está arraigado em seu entendimento da criação como auto-revelação do Criador. Sua antropologia emerge do relacionamento fundamental da criatura com o Criador. Julian salientou a natureza duradoura deste relacionamento essencial, observando que aquele que dá existência a suas criaturas com amor, certamente pretende cuidar delas e satisfazer suas necessidades, sejam elas quais forem.

Os homens e as mulheres do século XX, que buscam a mesma paz e segurança desejada pelos indivíduos do século XIV, podem descobrir o mesmo sentimento de afirmação e aceitação no conhecimento de que Deus também os ama e com eles deseja partilhar uma vida de comunhão íntima. A doutrina de Julian promete dar aos homens e mulheres de hoje a oportunidade de reformular a percepção da vida cotidiana. Oferece-lhes a oportunidade de acabar com a dor de um contexto voltado para problemas e perceber como tais dificuldades são, na verdade, componentes essenciais da criação, da cruz e da ressurreição.

As meditações de Julian não têm a pretensão de acabar com a dor do mundo de hoje, mas inspiram os fiéis a erguer-se no meio da luta e fixar os olhos em Deus. Promovem as virtudes da auto-aceitação e do amor ao próximo e mostram como essas qualidades ajudam as criaturas a descobrir o semblante divino. A capacidade de reconhecer Deus em todas as coisas é essencial para as criaturas propensas ao desânimo porque sempre se esquecem de que são amadas.

Além dos benefícios pessoais obtidos da leitura desta obra, tenho esperança que a publicação destas reflexões seja poderoso antídoto para a infeliz desunião que ainda existe entre as diferentes religiões do mundo. O misticismo pode ser a fonte de união entre os crentes, mas para tornar isso possível temos que entrar em contato com nossas tradições místicas. A fim de preparar nosso mundo e nossa igreja para de dêem os passos necessários em direção à união, quero convidar cada leitor, como indivíduo, a tomar parte no mistério do amor divino enquanto lê os versos deste livro, da mesma maneira que Julian participou do mistério da contínua revelação quando registrou estas palavras. Ouça-a conclamar todas as criaturas, grandes e pequenas, a contemplar a fonte de que se originaram e prestar ao Criador o mesmo respeito que receberam quando foram feitas do : Contemple esta criação e seu Criador e sussurre as palavras “É bom!”