::-=A. e R. Goettmann —1 — Prece do Coração=-::
Excertos de Prière de Jésus — Prière du Coeur, Alphonse et Rachel Goettmann, publicado pela Albin Michel em 1994
O Poder do Nome no Antigo e no Novo Testamento
Deus, ninguém jamais o viu e ninguém conhece seu Nome2). Ele é inominável e indescritível… Mas fazendo o homem, Deus formou nele uma câmara nupcial para que Ele possa sempre O reencontrar e ouvir Sua voz: este alto-lugar é o coração3) do homem, e cada vez que o homem aí se recolhe para honrar a Deus nesta célula, este reencontro se denomina: oração4). A Prece do Coração5 existe portanto desde que o homem existe, porque o homem não existe verdadeiramente a não ser que descubra este lugar de sua perpétua geração na vida divina. Deus chama o homem em seu coração, Ele o chama à vida, e só aquele homem que ouve se realiza como homem, plenamente. Esta é sua vocação.
Eis porque de uma ponta a outra da Bíblia ressoa o apelo de Deus “Shema Israel!” que contem toda a vida espiritual: “shema” quer dizer “escuta!”, da raiz “shem” que significa “o Nome”. Escutar o6 no fundo de nosso coração, é nascer para vida, é receber o núcleo divino que é nosso próprio nome, a pessoa oculta no fundo de nós-mesmos. Adão e Eva foram os primeiros a viver nesta intimidade com Deus, recebendo Dele “boca-a-boca”, como diz o texto hebraico, em uma transfusão de sopro. Mas ao recusarem a escuta, a ruptura não tardou, levando a queda e ao crime de Caim na segunda geração.
Para os antigos hebreus, o “shem”, o “nome”, guarda a natureza secreta de um ser; é como sua emanação, sua presença ativa e misteriosa: ativa, porque é através de seu nome que o ser quer se manifestar; misteriosa, porque o nome “re-vela” (no sentido de mostrar-se e voltar a se velar) à pessoa. Assim conhecer qualquer um por seu nome é conhece-lo profundamente, lá onde ele é único. Nesta mentalidade do semita em suas origens, aquele que revela seu nome dá acesso a sua transcendência mais oculta. Assim se revelando aos outros, se torna ao mesmo tempo vulnerável. Todas as religiões arcaicas conhecem este segredo e sabem que invocando o nome de seu Deus, detém um instrumento de conhecimento e um poder inusitado; razão pela qual a invocação estava no centro do culto e da atitude religiosa fundamental, até chegar à magia.
O Caminho de retorno é possível e o homem se torna Homem por esta invocação do Nome, que é o lugar de sua realização: “Enosh” que significa “Homem” é o “primeiro invocador do Nome”. A raça dos Semitas nasce com Sem, o primeiro filho de Noé (“sem”, os portadores do Nome”), e com esta raça nasce também a corrente que vai sustentar à antiga Tradição da Prece de Jesus, cujos discípulos por sua vez “portarão o Nome inscrito sobre suas frontes” (Apocalipse 14:1). Assim a linhagem dos portadores do Nome, do Gênesis ao Apocalipse não se interromperá jamais.
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