Jerônimo — Comentários a Mateus — Cizânia
Obras de San Jerónimo, II, Comentario a Mateo y otros escritos, Biblioteca de Autores Cristianos (BAC), Madrid, 2002, 769 p., edición bilingüe promovida por la Orden de San Jerónimo, introducciones, traducción y notas de Virgílio Bejarano.
Contribuição e tradução de Antonio Carneiro do Comentário à Mateus, Livro II (11, 2 — 16,12) — página 169
Aliam parabolam proposuit illis dicens: Simile factum est regnum caelorum homini qui seminauit bonum semen in agro suo. 25 Cum autem dormirent homines uenit inimicus eius et superseminauit zizania in medio tritici, et abiit. 26 Cum autem creuisset herba et fructum fecisset, tunc apparuerunt et zizania. 27 Accedentes autem serui patris familias dixerunt ei: Domine, nonne bonum semen seminasti in agro tuo? unde ergo habet zizania? 28 Et ait illis: Inimicus homo hoc fecit. Serui autem dixerunt ei: Uis, imus et colligimus ea? 29 Et ait: Non: ne forte colligentes zizania, eradicetis simul cum eis et triticum. 30 Sinite utraque crescere usque ad messem: et in tempore messis dicam messoribus: Colligite primum zizania, et alligate ea fasciculos ad comburendum: triticum autem congregate in horreum meum. (Mt 13, 24-30).
“Propôs outra parábola lhes dizendo: Semelhante é o reino dos céus ao homem que semeou em seu campo boa semente; mas quando os homens dormiam veio o inimigo deles e semeou em cima cizânia no meio do trigo” (13, 24-25), e o demais. Esta segunda parábola está com sua interpretação, mas não foi colocada seguidamente, mas sim explicada depois de intercaladas outras parábolas. Antepõe-se pois, aqui e depois, uma vez despedida a multidão, vão até a casa e se acercam dele “os discípulos a rogar: fale para nós sobre a parábola da cizânia no campo” (13,36), e o demais. Não devemos, no entanto, por um desejo precipitado para entendê-la, querer ter conhecimento dela antes que seja explicada pelo Senhor.
Contribuição e tradução de Antonio Carneiro do Comentário à Mateus, Livro II (11, 2 — 16,12) — página 177 e 179
“Então, despedida a multidão, foram para casa. E seus discípulos se acercaram dizendo: Conte-nos a parábola da cizânia no campo” (13,36). Despede a multidão Jesus e volta para casa para que se aproximem seus discípulos e lhe perguntem em segredo o que o povo não mereceu nem poderia ouvir.
Fale para nós sobre parábola da cizânia no campo. Ele respondeu ao dizer: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem” (13,36-37). Muito claramente expos que o campo é o mundo, o semeador o Filho do Homem, a boa semente os filhos do Reino, a cizânia os filhos péssimos, o semeador da cizânia o diabo, a colheita a consumação do mundo, os ceifadores os anjos; todos os escândalos se referem à cizânia, os justos referem-se aos filhos do Reino. Logo como acima dito, às explicações dadas pelo Senhor devemos ajustá-las à fé, e as omitidas (112) e deixadas para nossa inteligência interpretar serem resumidas com brevidade. Os homens que dormem entende-se como sendo os mestres eclesiásticos, aceita-se que os servos do pai de família não são outros senão os anjos que a diário estão a ver a face do Pai, diabo é apropriadamente o que se chama homem inimigo que Deus o abandonou e no Salmo 9 está escrito a respeito dele: “Levanta-te, Senhor, não fortaleça o homem” (Sal 9,20). Portanto, não durma o que está à frente de uma Igreja, não seja por sua negligência que o homem inimigo semeie em cima a cizânia, ou seja a doutrina dos hereges. Mas como se diz: “não seja que ao arrancar a cizânia arranque junto o trigo” (13,30), dá-se lugar à penitência, e nos adverte que não cortemos um irmão porque pode acontecer a ele, que hoje está depravado por uma doutrina, que possa recapacitar-se e defender a verdade inicial. Também aquilo que segue: “Deixai que um como o outro cresçam até a ceifa” (13,30), parece contrário àquele preceito: “Arrancai o mal do meio de vós” (Dt 13,5; 1Cor 5, 13), e que de nenhuma maneira tem que estar associado com estes que se chamam irmãos e que são adúlteros e fornicadores. Se, pois, se proíbe a ação de arrancar e ter paciência até a ceifa, como devem ser arrancados alguns do meio dos outros? Entre o trigo e a cizânia, que nós chamamos “lolium”1, enquanto a planta é uma erva e a palha todavia não chegou a dar espiga, é grande a semelhança e para distingui-las a diferença é nula ou muito difícil de averiguar. O Senhor portanto nos previne para que não pronunciemos no instante a sentença quando algo é duvidoso, mas sim que reservemos o prazo final do Juízo a Deus para que, quando chegue o dia do Juízo seja Ele quem exclua a comunhão dos santos não à uma suspeita de crime mas sim à uma culpa manifestada. No que se disse sobre os punhados de cizânia que seriam lançadas ao fogo e que o trigo guardado nos celeiros, está claro que todos os hereges e hipócritas a respeito da fé serão queimados nas fogueiras da Geena, mas que os santos, aos que se chamou “trigo”, serão guardados nos celeiros, isto é, nas mansões celestiais.
(113) “Então os justos brilharão como o sol no reino de seu Pai” (13,43). No presente século brilha a luz dos santos diante dos homens, mas depois da consumação do mundo os “justos brilharão como o sol no reino de seu Pai” (Dan 12,3).
Nota 1: Joio (planta), ver também Virgílio, Georgias 1, 152-154. ↩