SÃO JERÔNIMO — COMENTÁRIO A MATEUS
O CADÁVER E AS ÁGUIAS (Mt XXIV, 28; Lc XVII, 37)
Contribuição, tradução e notas de Antonio Carneiro do Comentário a Mateus, Livro V (22, 41 — 28,20) — páginas 343 e 345
Obras de San Jerónimo, II, Comentario a Mateo y otros escritos, Biblioteca de Autores Cristianos (BAC), Madrid, 2002, 769 p., edición bilingüe promovida por la Orden de San Jerónimo, introducciones, traducción y notas de Virgílio Bejarano.
Ubicumque fuerit corpus illuc congregabuntur aquilae. (Mt 24,28)
“Aonde quer que esteja o corpo, ali se congregam as águias” (24,28). Com um exemplo da natureza que vemos no quotidiano nos instrúi no mistério do Cristo. As águias e os abutres, dizem que, sentem o cadáver inclusive no além-mar e se congregam para conseguir tal manjar. Assim, se umas aves irracionais por um sentido natural separadas por tanto espaço de terra e pelas ondas do mar, sentem o cadáver no lugar onde está caído, quanto mais nós e toda multidão de crentes devemos apressarmos para ir juntos Àquele cuja Luz surgiu no Oriente e iluminou até o Ocidente. Além disso, podemos pelo corpo, isto é: “ptoma” cujo significado em latim quer dizer cadáver porque cai pela morte, entender a paixão de Cristo para a qual fomos chamados para que congreguemos onde quer que se leia nas escrituras, e por ela possamos chegar à palavra de Deus, como é aquilo: “Perfuraram minhas mãos e pés” (Sl 21,17), e em Isaías: “Como ovelha levada ao sacrifício” (Is 53,7) e outros testemunhos semelhantes. Além disso, águia são chamados os santos, a quem se lhes renova a juventude, como a águia, e que, segundo Isaías, emplumam-se e adquirem asas para chegar à paixão de Cristo (Is 40,3).