1. Há na inteligência, a cólera conforme à natureza (que se permite) contra as paixões. E sem cólera, não haveria pureza no homem, se ele não se irritasse contra tudo aquilo que é semeado nele pelo Inimigo. E quando Jó a experimentou, injuriou seus inimigos dizendo-lhes: “Infames e desprezíveis, destituídos de todo bem, vós que não julgo dignos de se misturar aos cães de meus rebanhos”. Aquele que quer alcançar a cólera conforme a natureza, deve fazer recuar todas as suas vontades, até estabelecer-se no estado natural da inteligência.
2. Se, estando a repelir a Inimizade, a vês enfraquecer diante de ti e bater em retirada, que teu coração não se alegre, pois a malícia dos demônios está sob ela. Eles preparam, com efeito, uma guerra pior que a primeira; eles a deixam atrás da cidade lhe recomendando não se mover; e se te levantas para ir a seu encontro, fogem diante de ti por fraqueza. Se então teu coração se eleva por tê-las perseguido e se deixas a cidade, aparecem por detrás, outros pela frente e deixam a infeliz alma no meio deles sem fuga possível. (Jos, 8). A cidade é a oração. A resistência é a réplica pelo Cristo Jesus. A marcha é a cólera.
3. Mantenhamo-nos portanto, bem-amados, no temor a Deus, guardando e observando a prática das virtudes, sem escandalizar nossa consciência mas nos vigiando no temor de Deus, até que a consciência se libere ela mesma conosco para realizar a união entre ela e nós; e então ela será nossa guardiã, que nos mostrará cada ponto sobre o qual falhamos. Mas se nós não lhe obedecemos, ela se afastará de nós e nos abandonará, e cairemos nas mãos de nossos inimigos e estes não nos farão concessões, como nos ensinou nosso Mestre quando disse: (Mt 5,25 ) Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele; para que não aconteça que o adversário te entregue ao guarda, e sejas lançado na prisão. Diz-se que a consciência é um adversário, porque se opõe ao homem quando ele quer realizar as vontades de sua carne, e se o homem não a escuta, ela o entrega a seus inimigos.
4. Se Deus vê que a inteligência lhe está submissa em toda sua força e que ela não tem outra sustentação que Ele apenas, Ele a fortifica dizendo: Não temas, ó bichinho de Jacó, nem vós, povozinho de Israel; eu te ajudo, diz o Senhor, e o teu redentor é o Santo de Israel (Isa 41,14), e ainda: Mas agora, assim diz o Senhor que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu. Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador. (Isa 43,1-3)
5. Logo que a inteligência ouve esta palavra de certeza, desafia a inimizade dizendo: (Isa 50:8) Perto está o que me justifica; quem contenderá comigo? Compareçamos juntamente; quem é meu adversário? Chegue-se para mim. (50:9) Eis que o Senhor DEUS me ajuda; quem há que me condene? Eis que todos eles como roupas se envelhecerão, e a traça os comerá.
6. Se teu coração detesta verdadeiramente o pecado, ele o terá vencido e se afastará de tudo que o faz nascer em ti.
7. Fechar as portas da alma, os sentidos, para não cair devido a eles. A inteligência submissa a ninguém se prepara para imortalidade, reunindo os sentidos e fazendo deles um só corpo.
8. Inteligência liberada de toda esperança do mundo das coisas visíveis, sinal de pecado morto em ti.
9. Inteligência liberada, desaparecimento daquilo que há entre ela e Deus.
10. Inteligência liberada de todos os inimigos, celebrando o sabá, ela está em outro mundo, pensando em coisas novas e incorruptíveis. (Mt 24:28) Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias.
11. O demônio se contém por um certo tempo, por esperteza, para em qualquer relaxamento do coração, se achando em repouso, se lançar sobre a pobre alma e capturá-la.
12. Lembrem-se das palavras de Jesus: (Mt 24:42-43) Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. (43) Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa; (Mc 13:35-37) Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, (36) Para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo. (37) E as coisas que vos digo, digo-as a todos: Vigiai; (Lc 21:34) E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia.
13. Se o homem não odeia toda a atividade deste mundo, não pode servir a Deus. Qual é então o serviço de Deus senão nada ter de estranho na inteligência quando em oração, nenhum prazer sensível quando se louva, nem malícia quando se canta, nem ódio quando se adora, nem má cobiça que nos entrave quando nos entretemos com ele e quando dele nos lembramos (mneme Theou). Pois todas estas trevas são uma muralha que cerca a alma infeliz e ela não pode servir a Deus com pureza quando ela as tem nela. Elas a retém, com efeito, no ar e não a deixam ir ao encontro de Deus, o louvar em segredo, orar para ele na suavidade do coração a fim de ser iluminada por ele. Eis porque a inteligência está sempre obscurecida e não pode progredir segundo Deus, porque ela não toma cuidado de cortar isto com ciência.
14. Quando o intelecto salva os sentidos da alma dos desejos da carne e os imbui de “apatia”, as paixões vergonhosamente atacam a alma, tentando fazer apegar seus sentidos no pecado; mas se o intelecto então continuamente apela a Deus em segredo, ele, vendo tudo isto, enviará Sua ajuda e destruirá todas as paixões ao mesmo tempo.
15. Não deixar seu coração desguardado, enquanto estiver no corpo. Até seu último suspiro não se sabe que paixão pode atacar, portanto não deixe nunca o coração desguardado.
16. Aquele que não recebe ajuda na guerra não deveria sentir-se confiante quando em paz.
17. Quando um homem se separa do mal, ganha uma compreensão exata de todos os pecados cometidos contra Deus; pois não pode ver seus pecados a não ser que deles se afaste com um sentimento de repulsa. Estes que alcançaram este nível oram a Deus com lágrimas, e estão cheios de vergonha ao relembrar seu amor das paixões.
18. Uma vez iniciada a busca de Deus com verdadeira devoção e com todo coração, não se pode imaginar que já se conforma a Sua vontade. Enquanto sua consciência o reprova por qualquer coisa que fizestes contrário à natureza, não estais livre: a reprovação significa que ainda estais sob provação e ainda não pagastes.
19. Quando o intelecto cresce forte, ele permite o amor que sufoca todas as paixões corporais e que impede qualquer coisa contrária à natureza ganhar controle do coração.
20. Examine-se diariamente à vista de Deus e descubra qual paixão está em teu coração.
21. Estar atento ao coração e vigiar os inimigos.
22. Estar atento a si mesmo, de modo que nada de destrutivo possa separá-lo do amor de Deus. Guardar o coração, e não se agitar. Quando um homem abandona seus pecados e retorna para Deus, seu arrependimento o regenera e o renova inteiramente.
23. Guardar o coração (Salmos 4,5; 10,10). Considerar a finalidade de cada texto na escritura, a quem se dirige e em que ocasiões. Perseverar na luta ascética e estar em guarda contra as provocações do inimigo. Manter a atenção fixa dentro de si mesmo, comungar com Deus na quietude, guardando seus pensamentos de distração e seu intelecto de curiosidade.
24. Em tempestades precisamos de um piloto, na vida presente precisamos da oração; pois estamos suscetíveis às provocações de nossos pensamentos, tanto boas como más. Como hesicastas, devemos discriminar entre virtudes e vícios com discrição e vigilância; e devemos saber que virtudes praticar na presença de nossos irmãos e anciãos e que virtudes praticar a sós. Devemos saber que virtudes o orgulho usa para assaltar o intelecto, e que virtude leva a vanglória, ódio e glutonia. Devemos purificar nossos pensamentos de “toda autoestima que se exalta contra o conhecimento de Deus” (2 Cor 10,5).
25. A primeira virtude é o desapego, ou seja, a morte em relação a todos e a tudo. Isto produz o desejo por Deus, e isto por sua vez eleva o ódio que está de acordo com a natureza, e que dispara contra as artimanhas do inimigo. Então o amor de Deus estabelecerá a si mesmo dento de nós, e através deste medo o amor se manifestará.
26. No momento da oração, devemos expelir de nosso coração a provocação de cada pensamento mau, rechaçando-o com um espírito de devoção para provar não estar falando a Deus com nossos lábios, enquanto ponderando sobre pensamentos maliciosos em nosso coração.
27. Se algum pensamento malicioso é plantado em teu coração quando estais sentado em tua célula, vigiais. Resistas ao mal, de modo que não ganhe controle de ti. Faça todo esforço para chamar Deus para mente, pois Ele está olhando sobre ti, e o que quer que estejas pensando em teu coração é totalmente visível para Ele.