Isaac Treinamento Espiritual 21-30

Isaque da Síria (Nínive) — Direções em Treinamento Espiritual
Curtos excertos (21-30) traduzidos do livro “PRIMEIROS PADRES DA PHILOKALIA”

21. Imagine a virtude como o corpo, a contemplação como a alma, e os dois juntos como formando uma homem perfeito, cujas duas partes — os sentidos e a mente — são feitos um pelo espírito. Assim como é impossível para uma alma manifestar seu ser antes que a formação do corpo, com seus membros, se tenha completado; assim também é impossível para uma alma alcançar a contemplação sem o trabalho ativo na virtude.

22. Quando ouves que é necessário retirar-se do mundo, deixar o mundo, para purificar a ti mesmo de tudo que pertence ao mundo, deves primeiro aprender e compreender o termo mundo, não em seu sentido diário, mas em seu significado puramente interior. Quando compreendes o que significa e as diferentes coisas que este termo inclui, será capaz de aprender sobre tua alma — quão distante está do mundo e o que está misturado com ela que é do mundo. “Mundo” é um nome coletivo, abarcando o que é denominado paixões. Quando queremos falar de paixões coletivamente, as chamamos “o mundo”; quando queremos distinguir entre elas de acordo com seus diferentes nomes, as chamamos paixões.

23. Quando tiveres aprendido o que o mundo significa, então, pelo discernimento tudo que está implicado neste termo, também aprenderás o que atém ao mundo e em que estás livre dele. Direi, em resumo, que o mundo é a vida carnal e tendo em mente a carne. Portanto um homem é considerado ser livre do mundo na medida que tenha lutado para se livrar disto.

24. Temor pelo corpo é às vezes tão forte nos homens a ponto de fazê-los incapazes de quaisquer feitos merecedores de honra ou louvor. Mas quando o temor pela alma é adicionado ao temor pelo corpo, o temor corporal funde-se nele como a cera na chama.

25. Por natureza a alma é sem paixão. As paixões são algo adicionado a ela, através da falta da alma ela mesma. Se anteriormente a natureza da alma era luminosa e pura através da absorção da luz divina, e se ela da mesma maneira assim se torna quando recupera seu nível anterior, isto por si prova que a alma abandona sua natureza quando é movida pelas paixões, como as crianças da Igreja asseveram.

26. O estado natural da alma é o conhecimento das criaturas divinas, tanto sensoriais e incorporais. O estado supernatural é o movimento (ou ação e estado) de contemplação da Deidade transubstancial. O estado contrário a sua natureza é o movimento ou disposição e a vida da alma assim como é encontrada em homens apaixonados, que servem as paixões. Assim é claro que as paixões da alma não pertencem à alma por natureza.

27. Se queres conhecer o mais interior no homem e ainda não tiveres alcançado o estado quando o percebes pelo espírito, podes aprendê-lo pelas palavras de cada homem, seu modo de vida e sua disposição. Um homem que é puro na alma e sem pecado em seu modo de vida, sempre fala as palavras do Espírito com castidade; e julga tanto o Divino, e o que é nele mesmo, de acordo com a medida de sua compreensão. Mas se um coração de homem está cheio de paixões, estas paixões movem também sua língua. Mesmo se ele fala de matérias espirituais, o faz sob a influência da paixão. Um homem sábio nota isto no primeiro encontro, e um homem puro cheira seu mau chairo.

28. As práticas de um monge são as seguintes: liberdade das coisas da carne, trabalho do corpo em orações e lembrança constante de Deus no coração.

29. A oração é uma coisa, e a contemplação na oração é outra, embora a oração e a contemplação mutuamente engendram uma a outra. A oração é a semeadura, a contemplação a coleta da colheita, quando o coletor está pleno de encantamento da visão inefável da beleza das espigas de milho, que brotaram diante dele das pequenas sementes que semeou.

30. O Salvador começou a obra de nossa salvação com jejum. Da mesma maneira todos aqueles, que seguem os passos do Salvador, constroem nesta fundação o início de suas empreitadas, posto que o jejum é a arma estabelecida por Deus. Quem escapará da culpa se negligencia isto? Se o Legislador Ele mesmo jejua, como pode qualquer um, que tem que obedecer a lei, estar isento de jejum? Eis porque a raça humana não conheceu vitória antes de jejuar, e o diabo nunca foi vencido por nossa natureza como é: mas esta arma tem de fato privado o diabo de força desde a partida. Nosso Senhor era o Líder e o primeiro exemplo desta vitória, a fim de pôr a primeira coroa de vitória na cabeça de nossa natureza. Assim que o diabo vê alguém possuído desta arma, o medo toma conta imediatamente deste adversário e tormentador, que se lembra e pensa em sua derrota pelo Senhor no ermo; sua força é de pronto destruída e a visão desta arma, nos dada por nosso Supremo Líder, o queima. Um homem armado com a arma do jejum está sempre em chamas com zelo. Aquele que aí permanece, mantém sua mente firme e pronta para encontrar e repelir todas as paixões violentas.