Isaque da Síria (Nínive) — Direções em Treinamento Espiritual
Curtos excertos (11-20) traduzidos do livro “PRIMEIROS PADRES DA PHILOKALIA”
11. Cada coisa é usualmente atraída por seu semelhante. Assim a alma, sendo dotada com o espírito, ardentemente atrai para si o conteúdo de um dito, assim que ouve as palavras que contêm a força espiritual oculta. Nem todo homem é movido para maravilhar-se pelo que é dito espiritualmente e possui grande força espiritual oculta nele. As palavras que falam de virtude requerem um coração não ocupado com a terra; e em um homem cuja mente está sobrecarregada com cuidados temporais, a virtude não desperta o pensamento para amá-la e buscar possuí-la.
12. A renúncia da matéria por um ser precede a união com Deus, embora, através da dispensação da graça, o último preceda de algum modo o primeiro. A ordem normal pela dispensação difere da ordem geral entre homens. Mas deves preservar a ordem geral. Se a graça vem primeiro em ti, isto é seu próprio afazer; se não vem primeiro, deves também subir ao topo da torre espiritual pelo caminho de todos os homens.
13. A insaciabilidade da alma em adquirir virtude volta para seu uso uma parte dos desejos visíveis (sensoriais) do corpo com a qual está junta. Cada coisa é feita boa por medida. sem medida mesmo as coisas determinadas excelente se tornam danosas.
14. Queres comungar com Deus em tua mente? — Esforça-te para ser misericordioso. Para o amor espiritual que marca a imagem invisível (de Deus em no homem), não há outro caminho do que aquele no qual um homem deveria primeiro que tudo começar por ser misericordioso na medida que nosso Pai celestial é misericordioso, como o Senhor disse (Lucas VI, 36).
15. Uma palavra não feita boa pela ação é como um artista que faz figuras de água nas paredes, no entanto não pode saciar sua sede com elas. Quando um homem fala de virtude de sua própria experiência, é o mesmo que dar para outro dinheiro ganho por seus próprios trabalhos. E se um homem semeia ensinamentos nos ouvidos de seus ouvintes daquilo que ele mesmo ganhou, abre seus lábios com confiança, dizendo a seus filhos espirituais como o idoso Jacó disse ao casto José: “Te dou Sicima, uma porção selecionada acima de seus irmãos, que tomaram das mãos dos Amoritas com minha espada e arco” (Gen XLVIII, 22).
16. Alguém disse em perfeita verdade que o medo da morte aflige um homem, cuja consciência o condena; mas um homem que sustenta bom testemunho nele mesmo deseja a morte tanto quanto deseja a vida.
17. Se algo se tornou profundamente unido com tua alma, deverias não somente vê-lo como tua possessão nesta vida, mas crer que te acompanhará na vida que vem. Se é algo bom, alegra-te e agradeças a Deus em tua mente; se é algo mau, lamentes e suspires, e esforça-te por liberar a ti mesmo disto enquanto ainda estais no corpo.
18. Sempre mantenha em tua mente as atrozes aflições daqueles atingidos com tristezas e tribulações, que possas dar os devidos agradecimentos pelas pequenas e insignificantes adversidades, que podem suceder a ti, e ser capaz de suportá-las com alegria.
19. Em tempos de descanso e ócio, imagine em teu coração aqueles tempos passados quando estivestes cheio de zelo e solicitude em todas as coisas, mesmo as menores; lembreis teu esforços do passado e a energia com a qual opusestes aqueles que queriam obstruir teu progresso. Estas relembranças reavivarão tua alma de seu sono profundo, a investirá novamente com o fogo do zelo, a levantará, como tal, dos mortos e a fará engajar em uma luta ardente contra o diabo e o pecado, assim retornando a seu nível anterior.
20. A atividade de composição é de duas espécies: uma consiste em suportar aflições corporais (privações corporais, inevitáveis na luta contra as paixões), e é chamada de atividade própria; os outros consiste em sutil fazer da mente, meditação sobre Deus, permanência em oração, e assim por diante, e é denominada contemplação. A primeira purifica a parte passional da alma, a outra traz luz para sua parte mental. Todo homem que, antes de aperfeiçoar seu treinamento na primeira atividade, passa à segunda, sendo atraída a suas delícias, sem falar de suas próprias ociosidades, se torna dominada pela ira por não ter primeiramente mortificado seus “membros que estão sobre a terra” (Col. III. 5), ou seja, por não ter sobrepujado a impotência dos pensamentos pelo paciente exercício na atividade de suportar a cruz, e por presumir deixar sua mente sonhar da glória da cruz. Este é o significado do dito dos santos do passado que, se a mente de um homem concebe uma intenção de subir à cruz, antes de seus sentidos serem curados de suas doenças e ter alcançado um estado de serenidade, ele é dominado pela ira de Deus. Um homem cuja mente é enganada pelas paixões vergonhosas, que é pronto a enchê-las com fantasias, tem uma interdição estabelecida em seu lábios, porque, sem primeiro purificar suas mentes pelo sofrimento, sem conquistar a luxúria carnal, ele põe sua confiança no que seu ouvido escutou e o que está escrito com tinta, e avançar no caminho encoberto na escuridão, quando seus olhos estão cegos.