ÍCONES — TRABALHO INTERIOR E EXTERIOR
VIDE
- Interior e Exterior
Simbolismo
Richard Temple
Tentemos imaginar o mestre pintor de ícones se apropriando da natureza de várias substâncias vegetais e minerais que ele transformará em um ícone. Ele o faz de acordo com tradições que aprendeu através da iniciação nas artes e ofícios da tradição de pintura de ícones. Somente certas árvores podem ser cortadas e somente quando em certo estado de maturidade. A madeira tem de ser preparada, armazenada, tratada e cortada de modo que suas propriedades orgânicas se tornem disponíveis. Do mesmo modo o mestre pintor deve conhecer as propriedades de muitas variedades de plantas e flores, onde crescem, quando deveriam ser cortadas, como extrair delas suas cores essenciais, como expô-las ao sol ou umidade e por quanto tempo. Além do mais deve conhecer a exata configuração de certos estratos de rochas e de quais cristalizações pode obter as cores mais puras depois de triturá-las. Então deve conhecer que argilas de que partes do campo e dos leitos de rios lhes darão os melhores ocres para marrons, amarelos e vermelhos.
Estes são os primeiros passos em um longo processo que, completo, pode ser compreendido como uma transformação da matéria. Enquanto conhecendo integralmente as propriedades materiais e orgânicas de seus materiais o mestre pintor os destrói em um estágio de sua existência a fim de recriá-los em outro nível. E para isto necessita conhecer as leis da criação.
Ao mesmo tempo uma transformação paralela tem lugar dentro dele mesmo de acordo com as leis da criação. Vimos na Philokalia qual é o trabalho do verdadeiro monge e Hesicasta: enquanto ele trabalha para a perfeição de suas técnicas nas matéria vegetal e mineral, assim também ele trabalha interiormente na manutenção de um estado de equilíbrio para que sua mente seja protegida de distrações mentais aleatórias e seus sentimentos de se perder em “paixões”.
Trabalho psíquico intenso, quando corretamente conduzido, traz um estado interior que é descrito como aquele da “iluminação”. E assim na pintura de um ícone duas iluminações têm lugar: uma visível em forma de pintura e a outra invisível no pintor. Embora uma tenha lugar no mundo material e a outra no mundo psíquico os dois processos estão intimamente atados um com o outro. Devemos tentar ver que as propriedades e qualidades de luz e cor na parte material de uma pinturas sagrada corresponderá às qualidades e energias espirituais ativas dentro do pintor ele mesmo.
Para o hesicasta o desenvolvimento das energias interiores em uma ciência exata. As energias psíquicas e a matéria psíquica, como suas contrapartes, têm diferentes tempos e densidades. Obedecem às mesma leis como aquelas do plano físico e somente diferem deles em grau. A energia superior, ou seja, as energias associadas com os estados espirituais de ser, podem penetrar e agir nos estados inferiores de energia. Um exemplo disto é a maneira que a matéria absorve a luz. Ambas são energias; a luz tendo menos densidade e vibrações mais finas que, por exemplo, a madeira.
O conhecimento do mestre pintor o habilita a reunir e prepara seus materiais de modo que eles podem ser transformados por seu trabalho e arte. Ao mesmo tempo ele prepara os materiais que constitui ele mesmo, ou seja, sua mente e seu corpo, que agora podem começar a submeter influências espirituais que descem através dele do alto. Em ambos os casos o inferior recebe um fluxo de energias superiores. No caso de pigmentos físicos e materiais de pintura isto será luz, e no caso da matéria psíquica que constitui a vida interior será luz espiritual.
Eis porque a qualidade nos bons ícones primitivos que têm o mais amplo e geral apelo é o da luminosidade. Muitos visitantes das igrejas e museus na Grécia e na Rússia foram surpreendidos pelas “cores brilhantes” cuja pureza luminosa emite vibrações que nos chocam direta e independentemente dos temas que ilustram. Podemos ser similarmente movidos pelas músicas sagradas cantada em uma linguagem que não compreendemos.
As vibrações de cor, como as vibrações de som, combinam, nas mãos de um pintor de ícone, para produzir harmonias que agem em nós através das vibrações que levantam dentro de nós. Observamos paralelos disto na natureza onde, por exemplo, células foto-sintéticas na vida da planta respondem à luz.
Mas nas eras anteriores à tecnologia, nos períodos da antiguidade e de Bizâncio, haviam escolas que desenvolveram conhecimento de trabalhar com energias espirituais e psíquicas e de criar analogias nas artes que demonstravam suas ações. Tal conhecimento era a base da arte no mundo de Bizâncio e na Europa medieval e foi mais tarde a fundação para a arte e filosofia de certas escolas da Itália.