ÍCONES — EXPAÇO E TEMPO
Richard Temple
A topografia cósmica e espiritual que vimos nos Ícones de São Jorge é a disposição na qual um número de eventos iconográficos têm “lugar”. A “paisagem” ilustrada é o fundo dos Ícones da Natividade, Ícones de João Evangelista e Ícones do Batismo.
A topografia destes ícones vem de Cosmas Indicopleustes e do meio intelectual helenista de Alexandria, cujo pensamento era imbuído da Doutrina dos Graus e que o contexto nos quais estes eventos são apresentados deveriam ser compreendidos em um sentido espiritual e cósmico e não de uma maneira naturalística ou literal. Em cada caso os elementos da narrativa da estória são secundários; sua função é chamar nossa atenção para o limiar de outro nível de compreensão além do qual podemos passar para o mundo da espiritualidade. Neste mundo as leis que regulam os fenômenos não operam; espaço e tempo não existe. A eternidade reside aqui e o espaço é multidimensional e infinito. Não pode haver sombras posto que os seres e eventos representados são eles mesmos fontes de luz; sua luminosidade preenche o espaço no qual aparecem não com luz física mas com uma radiação que vem do Supra Mundo que jaz além do sol.
O ícone é assim o portal que se encontra entre o mundo das aparências e os mundo interior. E é neste último que compreenderemos as verdade cósmicas arquetípicas que jazem profundamente em nosso ser psíquico.
A “paisagem” é claramente a mesma em todos os casos. E não podemos duvidar que esta é a mesma topografia que primeiro observamos na arte de Cosmas Indicopleustes, elementos os quais foram analisados nos Ícones de São Jorge.
Nos Ícones de João Evangelista encontramos as figuras localizadas dentro da paisagem cósmica e, como sempre, é aqui que devemo buscar o sentido que jaz além da sugestão que a paisagem representa a ilha de Patmos.
Posto que o fundo nos diz que o evento retratado tem lugar no mundo espiritual, encontraremos seu sentido principal exclusivamente neste contexto psicológico e não faremos concessões à ideia de uma localização geográfica efetiva. Similarmente, não consideraremos o evento como tendo acontecido no tempo histórico.
Que espécie de tempo existe em ícones? No mundo racional a linha de tempo horizontal indo do passado até o futuro é o único tempo que nossas mentes literais podem conceber. Mas no mundo espiritual somente o “agora”, um fenômeno independente de tempo linear, é real. Nosso tempo terrestre, consistindo em horas, dias e anos, é medida pela rotação diurna de nosso planeta em seu próprio eixo junto com sua rotação ao redor do sol. O tempo linear é, para nós, um fenômeno subjetivo único relativo só para nosso planeta e seu relacionamento a nosso sol. Além do sistema solar, nosso tempo, e os fatores pelos quais o medimos, não tem sentido. Consequentemente o fator “histórico” em religião se torna irrelevante na escala cósmica. “Agora”, ou seja, “o momento presente”, pode ser bem pensado como a entrada da eternidade no tempo e o único tempo que existe em ícones por conseguinte é o “eterno presente”.