Ícones da Déesis

ICONOGRAFIA – ÍCONES DA DÉESIS

VIDE: Déesis; Ícones da Mãe de Deus

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Abade Stephane

Este ícone que representa o Cristo entre a Theotokos e São João Batista é uma síntese doutrinal e “alquímica” se situando de pronto ao nível dos Arquétipos.

Não pode ser interpretado em termos de moral ou de psicologia. Estamos aqui no grau da Ontologia, na sua Realidade “concreta” “in divinis”, a respeito da qual uma “filosofia do Ser” não é senão um vestígio longínquo situado ao nível do mental do homem caído, ou uma reflexão que não alcança senão ao nada e determina assim um mundo de revoltados, de drogados e de suicidários.

Ao mundo dos Arquétipos “in divinis” responde aqui em baixo o mundo dos símbolos, pois toda coisa é símbolo de seu Arquétipo ou não é nada: a “Theotokos daqui de baixo” é o símbolo da “Theotokos do alto”. Entre o mundo dos Arquétipos e aquele dos símbolos, se situa o mundo das Teofanias , o mundo dos Fatos Sagrados, o mundo da Mediação, aos quais respondem aqui em baixo a atitude do “Orante”, da “suplicação” (Déesis), da Oração e aquele do Precursor, do “Testemunho”, do Mártir.

Tudo isto o ícone atesta. Ele é uma “manifestação santa da Sabedoria” (hagiografia sofiânica) em seus dois atributos: Justiça e Misericórdia. O Cristo aparece em sua função de Juiz e de Salvador; João é o Testemunho: “Eis o Cordeiro de Deus…” e a Theotokossuplica”. Sua atitude de Orante atrai o Espírito, como a virgindade do Seio marial no dia da Encarnação: Os meum aperui et attraxi spiritum” (Abri minha boca e atraí o Espírito — Sl 119,131). Aí reside o segredo da Oração; é o cálice que se abre ao Orvalho celeste: “Rorate coeli desuper…”.

O ícone tem por réplica o Ícone da Santa Sophia, onde a Sabedoria é igualmente figurada entre a Theotokos e São João Batista. Estes dois ícones têm evidentemente seu protótipo no Ícone da Santa Trindade, visualizado mas especialmente sob o aspecto do “orto:Trisagion”, da “tripla ação de graças” e do “testemunho” que se concedem mutuamente as Três Hipóstases. Esta “Liturgia Divina” desde então ao nível da “liturgia celeste” ou angélica: a Santa Sophia, sob os traços do “Anjo de Fogo” se mantendo entre a Theotokos, Rainha dos Anjos, e São João Batista, o “Anjo sobre a Terra”. Pois a Liturgia desce ao nível da “liturgia terrestre” onde o Precursor “dá testemunho” e onde a Orante, protótipo da Igreja, ora para todos os Santos que figuram sobre a iconostase à direita e à esquerda da Déesis. Trata-se portanto bem nisto tudo de uma “hagiofania sofiânica”, de uma Gordon Estado Primordial gradual da Sabedoria desde a Santidade imanente à Sabedoria incriada até suas manifestações exteriores. Em realidade, a distinção entre as três Liturgias, divina, celeste e terrestre, não é válida senão de nosso ponto de vista. Da mesma maneira todo símbolo participa da natureza de seu Arquétipo, a liturgia terrestre é necessariamente celeste, e todas as duas são divinas, e isto ilustra a sua maneira o dogma da União Hipostática e dogma da Transubstanciação.

Importa agora compreender em que consiste o Juízo. Isto que é primeiro e inalienável, é a Santidade imanente às Três Hipóstases divinas, e transcendente em relação a todas as suas manifestações; é a Santidade do Deus “três vezes santo”: “Sanctus, sanctus, sanctus…” Tal é o fundamento “sobre-ontológico” da Santa Sophia, da Santidade arquetípica do Pleroma, da Justiça do Reino, de que se diz: “Minha misericórdia prece minha Justiça”. Deus é Luz e Deus é Amor: o Cristo da Déesis é Juiz e Salvador. “O Pai lhe deu o poder de julgar, porque é o Filho do Homem” (Jo 5,27). Mas também é dito: “Deus não enviou o Filho no mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,17); “Ora eis qual é o juízo: é que a Luz veio ao mundo e que os homens preferiram as trevas que a luz” (Jo 3,19).

Assim somos julgados pela confrontação com nosso Arquétipo. Sobre o Ícone da Déesis, é o juízo pelos modelos, quer dizer pelos Arquétipos preexistentes no Pensamento divino, no Logos, e “encarnados” na Theotokos e em São João Batista, ao mesmo tempo símbolos do Masculino e Feminino “in divinis”, e “arquétipos” dos mesmos Princípios “quoad nos”: “Cada ser, os olhando, se julga”. Trata-se então de realizar a “integração arquetípica em Cristo do masculino e do feminino”, quer dizer a restauração do Andrógino primordial do estado edênico, o segundo Adão vindo restabelecer o equilíbrio e a harmonia do primeiro Adão antes da Queda; é nisso que consiste essencialmente a Justiça do Reino.