Ícone da Angustia do Inferno

ICONOGRAFIA — ÍCONES DA ANGÚSTIA DO INFERNO

VIDE: Inglês

SIMBOLISMO
Richard Temple
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Neste ícone da Páscoa, o homem, representado por Adão e Eva, está neste lugar psicologicamente baixo significado como um túmulo.

Se primeiramente inspecionamos o fundo do quadro no qual o drama é disposto, imediatamente reconhecemos o imaginário familiar que denota o mundo psico-cósmico.

Neste ícone o elemento essencial, o mundo mais alto, usualmente representado pelo quadrante em um dos cantos superiores, está ausente enquanto o mundo mais baixo é enfatizado como vemos quando estendemos o círculo implicado pela forma da caverna. Entretanto, como observamos no ícone ele mesmo, o reino divino não se ausenta de modo algum do ícone mas reaparece dramaticamente em um lugar diferente: o mundo de luz mais alto, contendo Cristo, aparece na escuridão da caverna — o lugar mais baixo na existência.

O homem é simbolizado aqui por Adão e Eva e várias figuras do AT que, reunidas, constituem a humanidade em geral. De acordo com a tradição eles ou, mais corretamente, nós, “caímos” em um estado de não-ser simbolizado pela caverna ou reino de escuridão, onde estamos aprisionados por “Satã” e “Hades”. Outra imagem para esta condição é a morte, e esta ideia de nosso estado de morte espiritual é sugerida pelos túmulos dos quais Adão e Eva, com a ajuda de Cristo, são levantados.

Todos os elementos narrativos neste ícone, até o menor dos detalhes, vêm do não-canônico Evangelho de Nicodemos. Este é um livro apócrifo cujas origens são obscuras e que alguns acadêmicos datam do século segundo. Trabalhos recentes, entretanto, indicam uma data mais tarde. A parte que conta a história da Descida ao Inferno é um relato por alguns dos mortos que foram ascendidos e que apareceram em Jerusalém. Relata como tiveram no Hades “com todos que morreram desde o início do mundo”. Todos os Profetas do AT estão lá e são finalmente reunidos por João Batista. Estão felizes com a perspectiva de liberação. Hades, o “insaciável devorador de todos”, e Satã, o “herdeiro da escuridão, filho da perdição, diabo”, já estão ansiosos e discutindo a perda de Lázaro que foi “sacado por um dos vivos”. Subitamente uma “voz como Hades e Satã planejam fechar os portões com barras de ferro e cadeados. Mas Isaías os faz lembrar de sua profecia. A voz de Salmos são ouvidas de novo:

e imediatamente… os portões de cobre são quebrados em pedações e as barras de ferro estilhaçadas e todos os mortos que estavam presos são liberados de suas correntes, e nós com eles. E o Rei da Glória entrou como um homem, e todos os lugares escuros do Hades foram iluminados.

O Reino da Glória estendeu sua mão direita, e tomou posse de nosso pai Adão e o levantou. Então voltou-se para o resto e disse: “Venham comigo, todos que sofreram a morte através da árvore que este homem tocou. Pois vejam, levantei-os todos de novo através da árvore da cruz. Com isto os liberou. E nosso pai Adão foi visto cheio de alegria.

O Evangelho de Nicodemos, em algumas partes pelo menos, é uma obra de grande mérito literário, nos oferecendo imagens poderosas e poéticas. A narrativa obviamente não deve ser tomada literalmente e certamente não é histórica. Entretanto, o ícone permanece uma das mais importantes imagens no cânon iconográfico ortodoxo. Tudo isto pode nos permitir concluir que seu originadores, talvez no século IX, compreendiam seu poder como uma alegoria cósmica dentro da psique humana. O ícone nos conta que a verdadeira ressurreição é um evento espiritual onde as partes mais baixas do universo, que correspondem e que são, em certo sentido, as partes mais baixas de nós mesmos, são levantadas e iluminadas através da ação unificadora da descida do Logos.

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