MESTRE ECKHART — DO HOMEM NOBRE IV
Deus disse: “Eu sou o Primeiro e o Último”. Não há nenhuma diferença na natureza de Deus ou nas pessoas divinas, consideradas na unidade de sua natureza. A natureza divina é Unidade, e cada pessoa é igualmente Unidade, a mesma Unidade que é sua natureza. A distinção entre essência e existência está aqui reabsorvida na Unidade: ambas são unidade e identidade. Só quando a Unidade deixa de repousar em si mesma, chega a uma diferenciação, e atua por essa separação. Por isso é na Unidade que encontramos a Deus, e quem quiser encontrar a Deus deve fazer-se Unidade.
Nosso Senhor disse: “Um homem se foi”. Onde existe separação não há Unidade, nem Ser, nem Deus, nem repouso, nem felicidade, nem satisfação. Faz-te Unidade para que possas encontrar a Deus! Em verdade, se fosses inteiramente unidade, seguirias sendo igualmente unidade no meio da distinção, as distinções seriam unidade por meio de ti e deixariam de ser obstáculo. A Unidade continua sendo plenamente unidade em milhões de pedras, do mesmo modo que em quatro pedras, e um milhão é em verdade um número tão simples como quatro.
Um mestre pagão disse que a Unidade nasceu do Deus supremo. Sua propriedade é ser unidade na unidade. Quem busca esta unidade abaixo de Deus engana a si mesmo. O mesmo mestre (a quem cito aqui pela quarta vez) destaca também que essa Unidade não se liga por amizade senão com espíritos puros e castos. Enfim, o mesmo São Paulo disse: “Como virgens castas eu os desposei com o Uno.” Assim é como o homem deveria estar unido ao Uno, que não pode ser outra coisa senão Deus”.