Hipólito Simão Samaritano

Hipólito — Refutação de todas as heresias

Agora devemos explicar as opiniões de Simão, um nativo de Gita, um vilarejo na Samaria; e provaremos que seus sucessores, tomando-o como ponto de partida, esforçaram-se (para estabelecer) opiniões parecidas, diferindo apenas no nome. Este Simão era um adepto da feitiçaria, como quando fazia muitos trambiques, parcialmente de acordo com a Trasímedes, como já explicamos anteriormente, e também fazia com a assistência de demônios, o que perpretava sua vilania, tentando se deificar. Ele era um enganador, cheio de malícia, e os apóstolos o reprovaram em Atos. Com muito mais conhecimento e moderação que Simão, Apseto, o Líbio, considerava-se eloquentemente um deus na Líbia. E o seu sistema lendário não apresenta nenhuma grande divergência do desejo desordenado do coitado do Simão, então devemos fornecer um explicação dele, como o melhor tentativa feita por esse homem.


Assim podemos fazer a comparação entre Simão Mago e este líbio, que pensaram que eram homens que se tornaram Deus. Se uma afirmação dessas for precisa, e o feiticeiro fosse sujeito a um sentimento similar ao de Apseto, mas mostrar mais uma vez aos papagaios de Simão que o Cristo, que foi, é, e sempre será, não era Simão. Mas (Jesus) era homem, nasceu de uma mulher, nasceu do sangue e da vontade da carne, assim como todo o resto (da humanidade). E essa é a verdade, e nós provaremos à medida que a discussão avance.

Simão, parafraseando ingenua e astutamente a lei de Moisés, faz suas afirmações (desta forma): Quando Moisés afirma que “Deus é um fogo consumidor”, ao interpretar Moisés fora do sentido correto, afirma que o fogo é o princípio criativo do universo. (Mas Simão) não percebe que, pelo que é afirmado na passagem, que Deus não é um fogo, mas um fogo consumidor, (portanto) não apenas interpreta erroneamente a lei de Moisés, mas até plagiariza de Heráclito, o Obscuro. E Simão denomina que o princípio criador do universo é um poder indefinido, expressando-se assim: “Este é o tratado de uma revelação (da) voz e nome (reconhecido) por meio da compreensão intelectual do Grande Poder Indefinido. De onde será selado, (e) mantido secreto, escondido, (e) irá repousar na habitação, na fundação onde jazem todas as coisas.” E ele afirma que este homem que é nascido do sangue é a habitação (mencionada), e que nele reside um poder indefinido, que ele diz ser a raiz do universo.

Sendo o poder indefinido o fogo, Simão afirma que não é uma (essência) decomposta, (de acordo com aqueles que) afirmam que os quatro elementos são simples, e que imaginaram que o fogo, (que é um dos quatro) é simples. Mas (longe de ser o caso, ele diz) que o fogo tem duas naturezas; e desta natureza dupla, ele separa uma parte “secreta”, e a outra “manifesta”, e a secreta está escondida na parte manifesta do fogo, e que a parte manifesta deriva sua existência da (parte) secreta. Entretanto, isso é o que Aristóteles denomina pelas (expressões) “potencialidade” e “energia”, ou (o que) Platão (chama de) “inteligível” e “sensível”. A parte manifesta compreende todas as coisas em si, qualquer um pode ver e discernir quaisquer objetos da criação visível que queira observar. Mas a (parte do fogo) secreta só pode ser discernida pelo intelecto, e escapa ao poder dos sentidos; se alguém falha ao observá-la, deve procurar uma forma especial de percepção. Em geral, visto que todas as coisas existentes caem sob as categorias, isto é, se são objetos dos Sentidos ou se são objetos do Intelecto, de acordo com a denominação (que Simão) emprega os termos “secreto” e “manifesto”; pode ser (em geral,) ser afirmado que o fogo, (isto é), o (fogo) super-celestial, é um tesouro, como se fosse uma grande árvore, como aquela do sonho de Nabucodonosor, de onde todos tiram seu sustento. Ele considera como a parte manifesta do fogo o tronco, os galhos, as folhas, tudo que é externo. Todos esses (membros), diz ele, ao serem queimados, estão destinados a desaparecerem por meios das chamas do fogo-que-tudo-devora. Porém, o fruto da árvore, quando está maduro e formado, é guardado em um celeiro, e não é (atingido) pelo fogo. Porque, diz ele, o fruto foi produzido para ser guardado, enquanto que a palha é para ser queimada. (A palha) é o tronco, (e é) criada não para seu próprio propósito, mas para o fruto.